SENTADO À TUA PORTA, DEUS AGUARDA O TEU SIM
Amados irmãos e irmãs,
Mais um ano se passou. Mais outro já quer se mostrar. Ainda não nasceu, mas já ouvimos falar dele e já tem até nome: 2016. Entre o ano que termina e outro que começa, vamos viver o tempo do Advento. Já o estamos iniciando. Advento é tempo de esperança. Tempo de esperar na promessa. Tempo de esperar na Palavra de Deus. Tempo de esperar o Senhor que vem.
Esperança é uma das palavras mais bonitas da nossa língua. A esperança é uma das três virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade. São os três modos do ser e do agir de Deus. Das três virtudes, a esperança é a que mais exigências faz. Porque a esperança é difícil de ser achada, difícil de ser acreditada, difícil de ser vivida. A esperança é a pedra preciosa da vida cristã. É ela que nos mostra o caminho a seguir. É ela que nos recoloca no caminho, quando dele saímos. Nós consideramos a vida e a história como uma grande caminhada, que só terminará no encontro feliz na Casa do Pai, na Nova Jerusalém, no Reino definitivo, como Jesus anunciou.
Nesta caminhada, é importante poder mostrar, ver e lembrar a presença dinâmica de Deus no meio de seu povo. Jesus é Emanuel: Deus no nosso meio. Lembrando e celebrando essa presença, alimentamos a vida cristã. A Palavra de Deus, proclamada nas celebrações, mostra como a vinda de Deus renova a história humana. No primeiro domingo do Advento somos chamados a esperar a vinda definitiva do Senhor no fim dos tempos; não como ameaça, mas como alerta, para que ninguém seja tomado de surpresa. É preciso esperar na promessa do Senhor. Ele cumpre o que prometeu e cumpre o que promete. No segundo e terceiro domingos, os dois personagens que mais se destacam são o profeta Isaías e João Batista. Eles anunciam a salvação que está próxima e que virá com absoluta certeza. É preciso esperar confiantes na Palavra, com atitudes de alegria e de conversão, que se misturam na chegada do Salvador. No quarto domingo, o personagem principal é Maria. Ela é a testemunha da espera do Senhor e no Senhor. Ela confiou na promessa e na palavra do Senhor. Por isso, está pronta para dar à luz o Salvador tão esperado.
Como entender o advento no sentido cristão? O Antigo Testamento fala muitas vezes das visitas ou vindas de Deus a seu povo para realizar suas promessas. Este dia da visita é também chamado Dia de Javé ou Dia do Senhor. O Novo Testamento diz que Deus realizou esta visita na pessoa de Jesus de Nazaré. Assim fala Simeão, quando vê o menino Jesus sendo apresentado no templo: “Meus olhos viram a salvação, que preparaste diante de todos os povos” (Lc 2,30-31). Os discípulos de Jesus nutriam a certeza de que ele iria inaugurar o Reino definitivo de Deus. Assustaram-se com sua morte, é certo. Mas depois, começaram a entender que a morte, na cruz, fazia parte do Plano de Deus para estabelecer seu Reino de paz e de amor, entre os homens.
Com a sua ressurreição, que é o seu advento, Cristo assumiu o poder, iniciou o Reino do Pai. Esse reinado é a vitória de Deus sobre todo o mal. Os primeiros cristãos logo esperaram que essa vitória se realizasse a qualquer momento. Porém, o tempo foi passando e, com a caminhada, foram percebendo que o que os esperava seria um tempo bem maior, entre a ressurreição, a realização total do Reino do Pai e a vinda definitiva de Jesus na glória de seu Reino. O Reino já existe entre nós como realidade dinâmica. Deverá ir crescendo até atingir seu objetivo final. Nós, cristãos em Igreja, somos sacramento desse Reino.
O Reino é comunhão profunda, perfeita e definitiva de Deus com os homens e dos homens entre si. O que é preciso evitar é confundir as coisas e fazer coincidir o Reino com qualquer outra realização histórica concreta. “Meu Reino não é deste mundo” (Jo 18,36). Nem tampouco é fruto de empenho apenas humano, mas se projeta para além do tempo e da história. Contudo, é também preciso não esquecer que o Reino atravessa os cruzamentos dos caminhos da história.
Por isso, como Isaías e João Batista, todos nós devemos estar atentos aos acontecimentos da história, procurando perceber neles os apelos de Deus. Viver o advento é, portanto, ficar atento aos sinais do Reino entre nós: os gestos de partilha e solidariedade, principalmente entre os mais pobres, no empenho pela justiça. Estejamos também atentos à Campanha para a Evangelização, que começou no domingo de Cristo Rei e segue até o dia 13 de dezembro – 3º domingo do Advento. Essa campanha busca associar a preparação para o nascimento de Jesus com a missão urgente da Igreja que é evangelizar. Em sintonia com o Jubileu Extraordinário da Misericórdia a campanha tem como lema “Sede Misericordiosos”. Participemos com a nossa oferta na coleta das Missas dos dias 12 e 13 de dezembro. Participemos na Abertura do Ano da Misericórdia de nossa Arquidiocese, no dia 19 de dezembro, a partir de 14 horas, na Catedral de São João Batista. Acolhamos com alegria a misericórdia do Senhor. Ele está realizando o mistério do seu Reino entre nós, pelo seu Espírito que nos anima, nos guia e nos transforma.
O tempo litúrgico do Advento reaviva em nós a esperança de um futuro melhor. O advento reanima a nossa coragem: os nossos esforços por uma vida digna, por uma sociedade fraterna não serão em vão. Reaviva o nosso amor. Alguém nos espera no ponto de chegada e já se faz presente, no ponto de partida, como amigo na caminhada. É por isso que a prece desse tempo é: ‘Vem, Senhor Jesus!’ Prece antiga que expressa que o Senhor já veio, está presente, mas ainda virá.
O Filho vem do alto como dom do Pai. Mas precisa da sua aceitação. Essa união entre o céu e a terra, entre Deus e o homem, pode ser entendida como a terra que se abre para receber a chuva que faz a semente brotar. Assim como a terra mais árida é fecundada pelo orvalho, deixemos o nosso coração se abrir e acolher, generosamente, o Salvador que novamente vem ao nosso encontro neste Natal.
E a melhor maneira de viver essa espera é junto de quem esperou. Com Maria, a Senhora da espera. Deus quis o “sim” de Maria. Precisou desse “sim”. E se assusta você pensar que o Plano Divino pendeu dos lábios da Virgem, o que você dirá, quando descobrir que, anos a fio, sentado diante da sua porta, o próprio Deus aguarda o seu “sim”?
Feliz Natal e abençoado Ano Novo!
+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niterói
