Papa considera visita ao Líbano como sinal profético de paz
”Acho que chegou o momento de dar juntos um testemunho sincero e decisivo contra as divisões, contra a violência, contra as guerras”, diz o Papa
Na catequese desta quarta-feira, 19, o Papa Bento XVI recordou os momentos de sua estadia no Líbano no último fim de semana por ocasião da entrega da Exortação Apostólica pós sinodal Ecclesia in Medio Oriente. Para Bento XVI, os dias passados no país foram “uma bela manifestação de fé e de intensa religiosidade e um sinal profético de paz”.
Mesmo diante das circunstâncias difíceis, o Papa disse que esta foi uma viagem que ele realmente quis fazer. Isso porque ele considerou que “um pai deve ser sempre próximo aos seus filhos quando encontram graves problemas”.
O Papa relatou que, tendo em vista os sofrimentos e dramas vividos na região do Oriente Médio, ele manifestou sua sincera proximidade às aspirações da população, levando uma mensagem de encorajamento e de paz.
Para ele, o povo do Líbano e do Oriente Médio teve, durante sua visita, uma importante experiência de respeito mútuo, compreensão e fraternidade, o que constitui sinal de esperança para a humanidade.
“Os muçulmanos me acolheram com grande respeito e sincera consideração, sua constante e participante presença deram-me a oportunidade de deixar uma mensagem de diálogo e de colaboração entre Cristianismo e Islamismo: eu acho que chegou o momento de dar juntos um testemunho sincero e decisivo contra as divisões, contra a violência, contra as guerras”.
Bento XVI lembrou ainda o momento da assinatura da Exortação Apostólica, o que aconteceu após a cerimônia de chegada. “Naquela circunstância convidei os católicos médio-orientais a fixarem o olhar em Cristo crucificado para encontrarem a força, também em contextos difíceis e dolorosos, de celebrar a vitória do amor sobre o ódio, do perdão sobre a vingança e da unidade sobre a divisão”.
Sobre o encontro com os Chefes da Comunidades religiosas muçulmanas, Bento XVI disse que a reunião desenvolveu-se com diálogo e benevolência recíprocos e destacou a necessidade de diálogo e cooperação entre os povos.
“Agradeço a Deus por este encontro. O mundo de hoje precisa de sinais claros e fortes de diálogo e cooperação, do que o Líbano tem sido e deve continuar a ser um exemplo para os países árabes e para o resto do mundo”.
Já em seu encontro com os jovens, o Papa recordou que os encorajou a serem firmes na fé e desenvolverem um relacionamento pessoal mais profundo com Cristo. Ao ver jovens cristãos e muçulmanos fazendo festa em harmonia, Bento XVI encorajou-os também a construírem juntos o futuro do Líbano. “A concórdia e a reconciliação devem ser mais fortes do que as forças da morte.
Por fim, o Santo Padre disse que, diante da multidão de fiéis reunida na Santa Missa, em seu último dia de visita ao país, quis exortar todos a viverem a fé e a testemunhá-la sem medo. Ele acredita que isso deve ser feito tendo em vista a vocação do cristão e da Igreja de levar o Evangelho a todos sem distinção, como fez Jesus.
“Tenho certeza de que o povo libanês, em sua multiforme e sólida composição religiosa e social, saberá testemunhar com um novo apreço a verdadeira paz, que nasce da confiança em Deus”, disse.
Leia a íntegra da Catequese de Bento XVI – Viagem Apostólica ao Líbano – 19/09/2012
CATEQUESE
Sala Paulo VI – Vaticano
Quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Caros irmãos e irmãs,
Hoje gostaria de voltar brevemente, com o pensamento e com o coração, à maravilhosa viagem apostólica que fiz ao Líbano. Uma viagem que eu realmente queria, apesar das circunstâncias difíceis, considerando que um pai deve ser sempre próximo aos seus filhos quando encontram graves problemas. Fui movido pelo desejo sincero de anunciar a paz que o Senhor ressuscitado confiou aos seus discípulos com as palavras: “Vos dou a minha paz – سَلامي أُعطيكُم » (João 14,27). Esta minha Viagem tinha como propósito principal a assinatura e entrega da Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente aos representantes da Comunidade católica do Oriente Médio, assim como a outras Igrejas e Comunidades eclesiais e também aos Chefes muçulmanos.
Foi um evento eclesial comovente e, ao mesmo tempo, uma ocasião providencial de diálogo vivido em um país complexo, mas emblemático para toda a região, por motivo de sua tradição de convivência e de eficaz colaboração entre os diversos componentes religiosos e sociais. Diante dos sofrimentos e dos dramas que permanecem naquela região do Oriente Médio, manifestei a minha sincera proximidade às aspirações legítimas daquelas queridas populações, levando a eles uma mensagem de encorajamento e de paz. Penso em particular sobre o terrível conflito que atormenta a Síria, causando, além de milhares de mortes, um fluxo de refugiados que se dispersam na região procurando desesperadamente segurança e futuro; e não esqueço a situação difícil do Iraque. Durante a minha visita, o povo do Líbano e do Oriente Médio – católicos, representantes de outras Igrejas e Comunidades eclesiais e de diversas Comunidades muçulmanas – viveu, com entusiasmo e em um clima descontraído e construtivo, uma importante experiência de respeito recíproco, de compreensão e de fraternidade, que constituem um forte sinal de esperança para toda a humanidade. Mas foi sobretudo o encontro com os fiéis católicos do Líbano e do Oriente Médio, presentes aos milhares, que despertou em minha alma um sentimento de profunda gratidão pelo ardor da fé deles e de seu testemunho.
Agradeço ao Senhor por este dom precioso, que dá esperança para o futuro da Igreja naqueles territórios: jovens, adultos e famílias motivados pelo forte desejo de enraizarem suas vidas em Cristo, permanecerem ancorados ao Evangelho, caminharem juntos na Igreja. Renovo o meu reconhecimento também a quantos trabalharam incansavelmente por esta minha Visita: os Patriarcas e os Bispos do Líbano com a colaboração deles, a Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, as pessoas consagradas, os fiéis leigos, que são uma realidade preciosa e significativa na sociedade libanesa. Pude constatar que as Comunidades católicas libanesas, mediante sua presença milenar e seu empenho pleno de esperança, oferecem uma significativa e valiosa contribuição no dia-a-dia de todos os habitantes do País. Um pensamento grato e respeitoso vai para as Autoridades libanesas, às instituições e associações, aos voluntários e a quantos ofereceram o apoio da oração. Não posso esquecer a cordial boas vindas que recebi do Presidente da República, Senhor Michel Sleiman, bem como de várias partes do País e do povo: foi uma acolhida calorosa, de acordo com a famosa hospitalidade libanesa. Os muçulmanos me acolheram com grande respeito e sincera consideração, sua constante e participante presença deram-me a oportunidade de deixar uma mensagem de diálogo e de colaboração entre Cristianismo e Islamismo: eu acho que chegou o momento de dar juntos um testemunho sincero e decisivo contra as divisões, contra a violência, contra as guerras. Os católicos, vindos também de Países vizinhos, manifestaram com fervor o seu profundo afeto ao Sucessor de Pedro.
Depois da bela cerimônia na minha chegada ao aeroporto de Beirute, o primeiro encontro foi de particular solenidade: a assinatura da Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente, na Basílica Greco-Melkita de São Paulo em Harissa. Naquela circunstância convidei os católicos médio-orientais a fixarem o olhar em Cristo crucificado para encontrarem a força, também em contextos difíceis e dolorosos, de celebrar a vitória do amor sobre o ódio, do perdão sobre a vingança e da unidade sobre a divisão. A todos assegurei que a Igreja universal está mais perto do que nunca, com o afeto e a oração, às Igrejas no Oriente Médio: esse, por ser um “pequeno rebanho”, não deve temer, na certeza de que o Senhor está sempre com eles. O Papa não os esquece.
No segundo dia da minha Viagem apostólica encontrei os representantes das Instituições da República e do mundo da cultura, o Corpo diplomático e os Chefes religiosos. A esses, entre outros, apontei um caminho para promover um futuro de paz e de solidariedade: trata-se de trabalhar para que as diferenças culturais, sociais e religiosas acabem, com o diálogo sincero, em uma nova fraternidade, onde aquilo que une é o sentimento compartilhado de grandeza e dignidade de cada pessoa, cuja vida deve ser sempre defendida e protegida. Nessa mesma jornada tive um encontro com os Chefes da Comunidades religiosas muçulmanas, que se desenvolveu em um espírito de diálogo e de benevolência recíproca. Agradeço a Deus por este encontro. O mundo de hoje precisa de sinais claros e fortes de diálogo e cooperação, do que o Líbano tem sido e deve continuar a ser um exemplo para os países árabes e para o resto do mundo.
À tarde, na residência do Patriarca Maronita, fui recebido com grande entusiasmo de milhares de jovens libaneses e de Países vizinhos, que deram vida a um festivo e orante momento, que permanecerá inesquecível nos coração de muitos. Destaquei a sorte deles de viver naquela parte do mundo que viu Jesus, morto e ressuscitado pela nossa salvação, e o desenvolvimento do cristianismo, exortando-os à fidelidade e amor por sua terra, apesar das dificuldades causadas pela falta de estabilidade e de segurança. Também os encorajei a serem firmes na fé, cofiando em Cristo, fonte da nossa alegria, e a desenvolverem um relacionamento pessoal mais profundo com Ele na oração, bem como estarem abertos para os grandes ideais de vida, da família, da amizade e da solidariedade. Vendo jovens cristãos e muçulmanos fazendo festa em grande harmonia, encorajei-os a construirem juntos o futuro do Líbano e do Oriente Médio e a oporem-se juntos à violência e à guerra. A concórdia e a reconciliação devem ser mais forte do que as forças da morte.
Na manhã de domingo, houve um momento muito intenso e participativo na Santa Missa no City Center Waterfront de Beirute, acompanhada de cantos evocativos, que caracterizaram também as outras celebrações. Com a presença de numerosos Bispos e de uma grande multidão de fiéis, provenientes de todas as partes do Oriente Médio, quis exortar todos a viverem a fé e a testemunhá-la sem medo, com a consciência de que a vocação do cristão e da Igreja é aquela de levar o Evangelho a todos sem distinção, a exemplo de Jesus. Em um contexto marcado por conflitos amargos, chamei a atenção para a necessidade do serviço à paz e à justiça, tornando-se instrumentos de reconciliação e construtores de comunhão. Ao término da Celebração eucarística, tive a alegria de entregar a Exortação Apostólica que reúne as conclusões da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio. Através dos Patriarcas e dos Bispos orientais e latinos, os sacerdotes, os consagrados e os leigos, este Documento quer alcançar todos os fiéis daquela querida região, para apoiá-los na fé e na comunhão e levá-los ao tão desejado caminho da nova evangelização. À tarde, na sede do Patriarcado Sírio-católico, tive, então, a alegria de um fraterno encontro ecumênico com os Patriarcas ortodoxos orientais e representantes daquelas Igrejas, assim como das comunidades eclesiais.
Caros amigos, os dias passados no Líbano foram uma bela manifestação de fé e de intensa religiosidade e um sinal profético de paz. A multidão de crentes provenientes de todo o Oriente Médio teve a oportunidade de refletir, de dialogar e, sobretudo, de rezar juntos, renovando o empenho de enraizar a própria vida em Cristo. Tenho certeza de que o povo libanês, em sua multiforme e sólida composição religiosa e social, saberá testemunhar com um novo apreço a verdadeira paz, que nasce da confiança em Deus. Desejo que as várias mensagens de paz e de estima que quis dar possam ajudar os governantes das regiões a darem passos decisivos pela paz e por uma melhor compreensão das relações entre cristãos e muçulmanos. Da minha parte, continuo a acompanhar aquela amada população com a oração, de modo que permaneçam fiéis aos compromissos assumidos. Com a materna intercessão de Maria, venerada em tantos antigos santuários libaneses, confio os frutos desta Visita pastoral, assim como os bons propósitos e justas apirações de todo o Oriente Médio. Obrigado.
Fonte: Canção Nova