Natal: onde e quando ?

Publicado em 15/12/2011 | Categoria: Notícias |


O sentido cristão do Natal


Arrisco-me a falar sobre o sentido cristão do Natal para uma plateia de adolescentes da geração Google, esta que já nasceu sem pecado original. Para eles, todos os mistérios podem ser decifrados com um click no teclado. Em não sei quantos microsegundos, eis a resposta na tela.

Mal começo a conversa e um garoto me questiona sobre a data e o local do nascimento de Jesus. Viu na internet uma matéria que dizia que Jesus não nasceu nem em 25 de dezembro, nem em Belém.

É duro ser professor de Religião em tempos de Wikipédia…

Convido-os a fazer uma roda, sento-me ao lado deles, ficamos do mesmo tamanho e começo o que quer ser uma prosa sobre o espírito do Natal.

– Olha, meninada, em tudo podemos buscar a coisa e o espírito da coisa. Vamos, primeiro, à “coisa”. Quanto à data de nascimento de Jesus, a reportagem certamente tem razão. Jesus de Nazaré não nasceu no dia 25 de dezembro. Esta data foi uma apropriação do cristianismo quando se integrou à cultura romana, vivendo um processo de sincretismo religioso semelhante ao experimentado, séculos depois, pelos escravos africanos, obrigados a camuflar seus deuses tribais entre os santos católicos.

– O que é sincretismo, professor?

– É misturar e fundir elementos de diferentes culturas, no caso, de diferentes religiões. Mas eu dizia que sobre a data real do nascimento de Jesus sabemos muito pouco. Afinal, a Bíblia não é um livro de História, nem de Ciências. É um livro de fé. Os evangelhos, por exemplo, não são uma biografia de Jesus. Eles trazem apenas informações e um ou outro detalhe que ajudam a compreender a mensagem do Mestre, a sua Boa Nova. Ela é o foco da narrativa. Mesmo assim, aqui e ali podemos pinçar alguma coisa.

Por exemplo, o evangelista Mateus nos informa que Jesus nasceu no tempo de Herodes, o Grande (Mt 2,13-23), um rei dos judeus que morreu na primavera do ano 750 do calendário romano, que corresponde ao ano 4 antes de Cristo. Baseando-nos nessas informações e outros estudos, sabemos, hoje, que o ano mais provável do nascimento de Jesus seria entre 7 ou 6 antes da era cristã, ou seja, estaríamos, na verdade, no ano 2017 ou 2018. Complicado, né?

Mas vejamos mais alguns dados históricos que explicam o 25 de dezembro.

No ano 274 da era cristã o Imperador Aureliano proclamou o 25 de dezembro, como o Dia do Nascimento do Sol Invencível. É que neste período acontece, no hemisfério norte, o solstício do inverno, que vem a ser a noite mais longa do ano. Mesmo assim, o sol nasce e vence as trevas, fazendo brilhar sua luz sobre todos. Era a festa do Deus Sol Invictus!

Por volta do ano 312 d.C. o imperador Constantino converteu-se ao Cristianismo e o elevou à categoria de Religião oficial do Império Romano. Acelera-se o processo de sincretismo, de inculturação cristã no universo pagão.

Ora, se durante o mês de dezembro celebravam-se as grandes festas pagãs, inclusive a Festa do “Deus Sol Invictus”, que vence as trevas e brilha sobre todos, nada mais significativo e adequado que dar-lhe uma roupagem e significado cristão. Afinal, é o próprio Jesus que diz: “Eu sou a Luz do mundo, quem me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida”.“Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens… Era a luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo…” No prólogo do seu evangelho, João diz:

Simples assim: “A ADEMG informa: sai a festa do deus Sol pagão, entra a festa do Filho de Deus, Jesus, cristão”.

Nasce o Natal.

– Mas e a outra “coisa”, o lugar onde Jesus nasceu?

É… a definição do local de nascimento de Jesus é mais complicada. A narrativa dos evangelhos é clara em situar este acontecimento em Belém. Afinal, todas as profecias do Primeiro Testamento apontam para a pequena cidade de Judá. Mas há quem argumente que o título “Jesus de Nazaré”, seria um indício de que ele teria nascido naquela aldeia da Galiléia. Neste caso, acho que a polêmica, provavelmente, permanecerá.

Mas, na verdade, o onde e quando são detalhes acidentais. O essencial é saber o porquê Jesus nasceu

– Tá bom, vamos lá ao “espírito da coisa…”

– É a melhor parte. Buscar e contemplar o “espírito do natal” nos permite perguntar quando e onde Jesus nasceu de outra forma. Aí, quem sabe, encontraríamos diferentes respostas…

Maria, sua mãe, talvez nos dissesse:

– Jesus nasceu numa tarde em que eu estava sozinha, em minha casa, em Nazaré da Galiléia. Eu rezava. Senti, então, uma luz que brilhava em mim e à minha volta. E um mensageiro de Deus falou ao meu coração. Desde então, nunca mais me vi ou me senti só. Ele estava e está em mim. Mas não o guardei comigo. Eu o ofereci de presente ao mundo e aos homens…

José, esposo de Maria, responderia, quem sabe, assim:

– Jesus nasceu, para mim, numa noite de sono atribulado, de pesadelos que torturavam o meu coração. Então o vi no olhar suave de Maria, minha noiva, no seu sorriso doce, na sua fidelidade ao Pai. Quando a abracei, Ele nasceu em mim.

Um grupo de pastores, em Belém, diria:

– Jesus foi, primeiro, uma estrela no céu. Mas o desejo da sua vinda já brilhava em nosso coração…

Os magos confirmariam:

– Seguimos a estrela que anunciava a chegada de um rei. Encontramos um menino pequeno e frágil, seu pai e sua mãe, ambos simples e pobres. Jesus nasceu, para nós, num momento de surpresa, num lugar chamado simplicidade…

Os amigos de infância de Jesus, entre risos, afirmariam:

– Jesus nascia todos os dias, nas brincadeiras, na amizade, na alegria. Ele era, sempre, um companheiro, um amigo. Quando estava conosco era um renascimento.

João Batista contaria seu segredo:

– Meu coração bateu mais forte quando o vi, entrando no rio Jordão e caminhando em minha direção. Ele sorria e parecia saber exatamente o que fazer. Quando pediu que eu o batizasse, senti que algo extraordinário nascia naquele momento e lugar. E eu era parte dessa história. Meu coração exultou de alegria e me senti, de novo, criança, no ventre de minha mãe…

Simão daria o seguinte depoimento:

– Ele apareceu às margens do lago e não entendia nada de pescaria. Mas chamou a mim e meus amigos para segui-lo e sua voz fez nascer em minha alma uma sede que só ele podia saciar. Deixei tudo e, naquele dia, nasceu Pedro.

Maria de Magdala lembraria o dia em que encontrou Jesus.

– Eu o vi e ele era apenas mais um homem. Mas me olhou de um modo que homem nenhum jamais havia me olhado. Tive vergonha, mas Ele me amou por mim mesma e fez nascer uma mulher que eu nunca tinha sido, mas desejava ardentemente poder ser. Então, eu o segui até o túmulo, e depois do túmulo. Eu o vi renascer.

Tomé, emocionado, confessaria:

– Jesus estendeu as mãos e vi as marcas dos cravos. Era um sinal de morte, mas tudo nele era vida. Eu acreditei, e tive uma santa inveja dos que não precisaram ver, para renascer…

E assim, por quase dois mil anos de História podemos colher insistentes relatos de “nascimentos de Jesus” em lugares, circunstâncias e tempos mais extraordinários… ou comuns. Das formas mais diversas. Parece que todo ser humano sobre a face da Terra tem seu momento de vislumbre, sua “visão”, seu natal.  E ele, quando acontece em profundidade, é decisivo. É capaz de mudar o rumo de uma vida. É capaz de dar sentido a gestos que só podem ser entendidos por aqueles que vivem grandes paixões.

Por isso, ao longo do Tempo e da História, poderíamos perguntar a todos e a cada um, quando e onde lhe nasceu Jesus.

Eu teria dificuldades em responder por mim mesmo. Meu primeiro impulso seria dizer que Ele nasceu, para mim, numa capela improvisada, forrada de capim, quase uma manjedoura, na cidade de Itaúna, no interior de Minas. Era fevereiro do ano de 1972. Eu participava de um encontro de jovens e, naquele dia, compreendi em meu coração que Deus não era uma ideia, mas uma pessoa que me conhecia e amava, desde sempre.

Ele renasceria, para mim muitas vezes. Em três ocasiões, num lugar adequado a nascimentos: uma sala de parto, num hospital. Nascia em mim um pai e Jesus, se fazia, cada vez mais, irmão…

Foi natal, no dia em que pude ajudar um amigo em dificuldades. Foi natal quando pedi e recebi perdão. Foi natal quando O enxerguei no morador de rua, meu irmão. É natal, todos os dias, na minha sala de aula, quando Ele nasce e renasce nas gerações e gerações de alunos que permitem que eu me sinta, ao menos um pouquinho, mestre, como Ele foi.

É natal e também é páscoa, quando, todos os dias, Ele morre por causa do meu egoísmo, e renasce pela força do meu amor…

E para você, meu irmão querido, minha irmã amada, quando e onde lhe nasceu Jesus?

Eduardo Machado

Escritor e professor



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