Mesa da Palavra – Jesus, o pão da vida.

Publicado em 02/08/2012 | Categoria: Notícias |


 

Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra

18º Domingo do Tempo Comum – Ano B – 05-08-2012

E, reparando a multidão que nem Jesus nem os seus discípulos estavam ali, entrou nas barcas e foi até Cafarnaum à sua procura. Encontrando-o na outra margem do lago, perguntaram-lhe: Mestre, quando chegaste aqui? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: buscais-me, não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes fartos. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que dura até a vida eterna, que o Filho do Homem vos dará. Pois nele Deus Pai imprimiu o seu sinal. Perguntaram-lhe: Que faremos para praticar as obras de Deus? Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que ele enviou. Perguntaram eles: Que milagre fazes tu, para que o vejamos e creiamos em ti? Qual é a tua obra? Nossos pais comeram o maná no deserto, segundo o que está escrito: Deu-lhes de comer o pão vindo do céu. Jesus respondeu-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu, mas o meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu; porque o pão de Deus é o pão que desce do céu e dá vida ao mundo. Disseram-lhe: Senhor, dá-nos sempre deste pão! Jesus replicou: Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede. Jo 6, 24-35

Onde está Jesus?

 

O povo estava saciado

Até sobrara alimentação.

Todos tinham partilhado

Do peixe trazido e do pão.

Cadê do milagre o autor?

Olhos o buscam em vão.

Jesus! Gritam num clamor,

Queriam mais alimentação.

– Partiu para o outro lado!

É o que diz aquela criança

Que tudo havia começado.

Aos barcos o povo avança

Quer estar com seu amado.

Ao vê-lo alegra-se a pança

Vai haver de novo comida.

Só que o alimento é outro.

Pois é Ele o pão da vida

Vale bem mais que o ouro.

 

 

Jesus, o pão da vida

João continua a nos falar da busca de Jesus por parte da multidão e da íntima relação que Ele tinha com ela. O povo continua ávido por alimento. Comer é necessidade básica. Direito fundamental do ser humano. Ninguém pode viver sem comida. Não se encontrando alimento logo virá a morte. Sem ter comida suficiente a vida vai se fazendo fragilizada, daí à doença e perda da dignidade será mera questão de tempo.

O povo não somente nos tempos do Senhor, mas ainda hoje continua ansiando pelo alimento. Não tê-lo disponibilizado para todos é pecado. Como país que se diz cristão é preciso, mais que sentir vergonha, é preciso que todo brasileiro trabalhe empenhadamente até ser eliminado do Brasil o absurdo da fome.

Semana passada Jesus nos convidava, como seus discípulos, a passarmos “para a outra margem”. Neste domingo a continuação do Evangelho de João já nos traz o cenário desse “outro lado” no qual o povo encontrará o Senhor. Ao aceitarmos seu convite para passar ao “outro lado da vida”, não é preciso ter medo, eis que lá na outra margem Ele está sempre a nos esperar de braços abertos.

Observando o acontecido com os olhos da modernidade, é possível que se perca alguns aspectos importantes, para se bem compreender o que por lá se passava. É importante saber que aqueles eram tempos de grande empobrecimento. Os altos impostos e as dificuldades com o manejo de uma agricultura rudimentar constituíam-se em grandes concentradores de renda.

Bastava haver simples disfunção climática tais como muita ou pouca chuva, ou mesmo a ocorrência de uma praga qualquer, a incapacidade para se contratar ajudantes e até o uso de sementes inadequadas, para que batessem à porta miséria e infortúnio. Perdida a colheita os lavradores se arruinavam. Daí a ter tomadas suas terras era só mais um passo. As classes dominantes, compostas inclusive pela elite religiosa, iam ainda mais se enriquecendo.

Por isto Jesus encontrava tanta gente pelo caminho. Com certeza que muito desse povo era oriundo do campo. Endividados contraiam empréstimos com os mais ricos. Esses, quais aves agoureiras, há muito haviam lançado seu olhar de cobiça sobre aqueles em atraso no pagamento dos haveres. O alto nível de prostituição, as crianças largadas, os homens adoecidos, tudo isto era fruto de um modelo econômico perverso e pior ainda, administrado em nome de Deus. Havia muita fome nos tempos de Jesus.

A cena do Evangelho começa assim. O povo a buscar comida repara na ausência daquele que os tinha alimentado. A fome logo iria voltar e tornava-se imperioso ir então procurá-lo. Afinal quem tem fome tem pressa. Jesus sabia dos seus motivos. Não que fosse lhes negar comida, mas era importante aproveitar a situação para provocar-lhes a reflexão. O Messias não perdia oportunidades para ensinar.

Somos muito parecidos com aquela multidão. Não nos sentimos tranquilos quando temos a impressão, diante do seu silêncio, que Ele partiu. Tal sentimento se dá basicamente no momento da crise. Nela, ao nos depararmos com o silêncio de Deus chega-nos a aflição. Mesmo adultos tornamo-nos tais crianças que se acalmam porque a voz da mãe – e Deus é mãe – lhes é audível.

É preciso crescer na fé, para que possamos procurar Jesus como adultos. Buscá-lo assim significará querer estar junto dele não porque estaremos sendo alimentados de pão e peixe, mas porque sentimos que Ele tem muito mais a nos oferecer. Será este “mais” e não a comida para a barriga, ou o fascínio pelo milagre, que nos moverá para Ele.

Ao receber dele esse “mais” que é o ‘pão da vida” que alimenta para a vida eterna, não é possível que se permaneça quieto. Há que se sair para levar aquilo que de graça foi recebido, para dar de comer a quem tem fome.

Alimentar-se de Jesus, é abrir-se à generosidade da partilha. Por conseguinte, partilhar o pão de Jesus é caminhar para a maturidade cristã. É preciso que o crer no Filho de Deus nos leve para além da comunhão. Nos faça “distribuidores” dele – seus discípulos missionários – entre o povo faminto.

 

Pistas para reflexão durante a semana

 

– Somos adultos na fé ou ainda agimos como crianças na procura de Deus?

 

– Acolho, como Jesus, as pessoas que encontro pelo caminho?

 

– Nosso modelo econômico gera partilha ou acúmulo?

Fernando Cyrino



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