A VOZ DO PASTOR – JUL 2018

Publicado em 02/07/2018 | Categoria: Notícias |


DEUS É MAIOR QUE A ESCURIDÃO

 

Irmãs e irmãos,

Julho chegou! Com que pressa o tempo anda!

Ainda há pouco, no começo de janeiro, estávamos celebrando as alegrias do Natal nas solenidades da Epifania e do Batismo do Senhor. Tudo era festa!

Veio a Quaresma, e ela nos chamou para um olhar mais profundo, até que a Páscoa do Senhor clareasse tudo o que a existência insiste em deixar nebuloso. À luz do círio pascal iluminamos nossas incertezas e voltamos a confiar que algo que nos ultrapassa, também nos espera. “Que a luz de Cristo que ressuscita resplandecente dissipe as trevas de nosso coração e nossa mente”. Estávamos novos. Podíamos prosseguir confiantes. E assim nos encontraram as alegrias pascais, distribuídas pelos domingos seguintes: na Ascensão, no Pentecostes, na verdade da Trindade, na beleza do Corpus Christi, no amor do Sagrado Coração. Cada domingo foi uma ponte. Ponte-por-ponte, atravessamos o rio caudaloso do tempo, cheio de corredeiras e perigos.

Que felicidade poder acreditar!

Não é apenas consolo, é certeza. É a garantia da penhora. Se as águas do mar da vida quiserem nos afogar, como diz a música, um braço forte irá nos segurar. E ainda que mãos de afogado estejam cheias de mato, a nossa estará limpa, como a de criança depois do banho, porque esse braço, além de forte é também gentil: ele nos segura, nos mantém e, sobretudo, nos quer.

Até o final do ano, em cada domingo virá ao nosso encontro uma palavra nova. Neste ano, o vigoroso evangelho de Marcos continuará a tarefa de viver o mistério de Cristo nas dores do mistério da Igreja, a eternidade dentro do tempo.

Quanta coisa o tempo nos reserva! Quanta queda na estrada! Quanta escuridão! Vivemos tempos difíceis. Nossa história está marcada por crises. Precisamos de esperança. Nunca, tempo algum precisou tanto de esperança quanto o nosso. Precisamos de esperança para nunca desanimar. Mas precisamos que nossas certezas sejam construídas em alicerces firmes. E o meu pedido nessa hora é um só: “Que Ele lhes ilumine os olhos da mente, para que compreendam a esperança, para a qual Ele mesmo os chamou e para que entendam como é rica e gloriosa a herança destinada ao seu povo” (Ef 1,18).

Quero me inspirar no testemunho do Apóstolo Paulo, cuja solenidade celebramos juntamente com o Apóstolo Pedro. A vida de Paulo é um ensinamento sobre o seguimento de Cristo em meio às crises.

Quanta coisa o tempo nos reserva! Quanta queda na estrada! Quanta escuridão! O meu pensamento se volta para a rua chamada “Direita”, em Damasco, (cf. At 9,11) naquilo que sobrou da Síria, onde outros homens se ressentem da mesma escuridão. Lá, ainda é possível encontrar Paulo de Tarso, cego dos olhos, lúcido no coração. Seu tombo iniciará sua cura, a escuridão que o cega será portadora de luz.   

Enquanto Saulo foi apaixonado por si mesmo, era pequeno. Só quando Paulo se tornou apaixonado pelo Senhor, tornou-se grande, apesar do nome, que significa pequeno. Em Paulo, a vida curou a vida. Tudo começou numa queda, aliás, por causa da queda. Tudo aconteceu numa perda, aliás, por causa da perda. Tudo aconteceu num caminho, aliás, por causa do caminho. Sem aquele tombo, sem a escuridão que se seguiu, as cartas, as viagens, o martírio, não teriam nenhuma razão. Do tombo e da escuridão é que Saulo renasceu Paulo. Foi dali que ele se fez.

À igual cegueira, momentânea e desafiadora como a de Paulo, estamos expostos nesse momento da história. Se alguma meta para o seguimento do Senhor for encontrada, por ora, será à luz dessa cegueira, tão momentânea quanto desafiadora.

Sim, em todo tempo continuamos discípulos e missionários.

Mas o que isso significa na nossa vida? O que seremos depois desse tombo e dessa cegueira a que foi submerso o país e, com ele, todos nós?  A Voz que falou a Paulo, provavelmente, hoje, não nos fale de perseguição, mas de contratestemunho. Saulo, Saulo, por que você me persegue? E você, por que você é ainda tão lento em ser minha testemunha?

Esse é um momento fundador do ser. Se a casa não for construída na rocha, nem precisa muito vento ou muita tempestade para fazê-la ruir. Esse é o tempo, não podemos perdê-lo. Paulo viveu cada momento como único, nenhum foi perdido.

No último instante de vida, antes da espada descer, Paulo, velho e cansado, doente de tantas prisões, um resto de gente, ainda era um pavio de vela. E como iluminava aquele pavio de vela! Aquela frágil vela se tornou um círio pascal. Os olhos estavam cansados e doentes. Mas o brilho do olhar ainda era o mesmo. Naquele último olhar, seu pensamento alcança a estrada de Damasco, a queda com o rosto por terra, a escuridão.

“Combati o bom combate” (2Tm 4,7).

O machado desce, o corpo tomba, a cabeça rola ao lado. Por alguns segundos, os olhos permanecem abertos e ainda conseguem ver. Depois se apagam. Mas o que se apaga são os olhos, nunca o olhar. Aquele mesmo corpo, que um dia, ainda jovem, tombou na areia da estrada, agora, tomba, exangue, separado de sua cabeça. Mas sem nenhuma escuridão.

Tudo o que não é dado é perdido.

A vida tem algum sentido ou seria apenas uma piada cósmica? Esse momento de escuridão que atravessamos tem algum brilho ou apenas aquele que os fogos, depois dos gols, acenarem como uma passageira ilusão? Os homens e as mulheres de fé, na certa, não se darão por vencidos quando as altas instâncias da Nação os envergonharem. Nem irão desistir. Nem irão dar à cegueira status permanente. Do tombo na areia e da cegueira nasceu Paulo. Nós também renasceremos.

Tudo o que não é dado é perdido.

Penso em Paulo liberto de todas as prisões e de todos os condicionamentos. Os romanos, coríntios, gálatas, efésios, filipenses e colossenses tiveram Paulo. Nós também o temos. E temos Deus. Vinte e um séculos depois, somos a luz de Deus para esse momento. O que nossas mãos tocarem, Deus abençoará.

Não temamos a escuridão. Ela é passageira, sempre é.

Livres em relação a todos, sejamos servos de todos. Sejamos fracos com os fracos e tudo para todos, para salvar alguns a todo custo. Não por outra causa, mas por causa do Evangelho, para dele nos tornarmos participantes. Para que não aconteça que, tendo proclamado a mensagem aos outros, nós mesmos fiquemos dela reprovados (1Cor 9,19-27).

Esse momento de escuridão não significa falta de luz. Ela existe e brilha; apenas se escondeu. Momentaneamente. Por esse mesmo caminho muitos passaram e tombaram e ficaram cegos. Momentaneamente.

Que nossos santos, João Batista e Paulo, os que perderam a cabeça por amor a Jesus, a quem momentaneamente os olhos se fecharam, abram os nossos olhos, nos ergam da poeira do chão e nos digam para seguir em frente, sempre em frente, confiantes.

Que a Virgem e Mãe, Senhora Auxiliadora, nos cubra de todas as graças necessárias para não desviarmos nem perdemos o rumo da estrada de Damasco, em nossas vidas. Que não tenhamos medo do escuro. Deus é maior que a escuridão!

Que bênçãos cubram nossas vidas e a esperança nunca se afaste de nós, nem nesse mês de julho nem no restante do ano. Amém.

+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niterói

 

Fonte: Arquidiocese de Niterói



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