É Preciso romper o silêncio

Publicado em 27/10/2015 | Categoria: Notícias |


            

           No começo deste ano, uma menina de Porto Alegre subiu no telhado de sua casa e ameaçou atirar-se lá do alto. Os pais foram chamados às pressas no trabalho. Levada ao Centro de Promoção da Vida e Prevenção ao Suicídio do Hospital Mãe de Deus, a garota contou que tentara se matar porque ninguém lhe dava atenção na família. O pai e a mãe passavam os dias fora, do início da manhã até a noite. A menina tinha oito anos.

A reportagem é de Itamar Melo, publicada por Zero Hora, 04-10-2015.

Um garoto da mesma faixa etária ingressou na emergência do hospital, pouco tempo atrás, por ter ingerido uma moeda. O otorrino retirou o objeto e liberou o paciente. Uma semana depois, ele retornou. Desta vez, havia engolido várias moedas. Na investigação, descobriu-se que a motivação para a atitude era tristeza.

Situações desse tipo estão se tornando mais comuns nesta década, segundo diferentes levantamentos, resultando em aumento de mortes entre crianças e adolescentes. Conforme a publicação Mapa da Violência, que se baseia em dados coletados pelo Ministério da Saúde, as faixas em que as taxas de suicídio mais cresceram no Brasil, entre 2002 e 2012, foram as dos 10 aos 14 anos (40%) e dos 15 aos 19 anos (33,5%). No Rio Grande do Sul, de acordo com estatísticas da Secretaria Estadual da Saúde, ocorreram 60 suicídios nesse grupo em 2013, o maior número desde 2009.

Essas mortes são a face trágica de um problema muito mais abrangente, que diz respeito às tentativas de tirar a própria vida. De acordo com os registros existentes no Centro de Informações Toxicológicas (CIT), 4.658 crianças e adolescentes gaúchos tentaram se matar, apenas por autointoxicação, entre 2005 e 2013.

– Até hoje, jamais tínhamos constatado tentativas em idade tão tenra. E agora está acontecendo isso. É uma novidade, uma coisa pouco estudada, um novo mundo. Por enquanto, estamos apenas detectando o problema. Precisamos de pesquisas e de uma política específica. Porque a metodologia de prevenção para criança e adolescente tem de ser outra. Para começar, é mais difícil de detectar o risco, porque eles não verbalizam tanto quanto a pessoa mais velha – observa o psiquiatra Ricardo Nogueira, coordenador do Centro de Promoção da Vida e Prevenção ao Suicídio.

Para o médico Vitor Stumpf, voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV), as tentativas de suicídio ente crianças e adolescentes são um problema muito negligenciado, pouco conhecido até mesmo por profissionais.

– A massa dos pediatras não tem conhecimento nessa área. Neste mês de outubro, tentei de todos os jeitos incluir uma mesa sobre suicídio em um congresso de pediatria. Negaram – afirma.

PESQUISA APONTA PARTICULARIDADES

Os dados do CIT foram dissecados em uma dissertação de mestrado defendida na UFRGS em maio. De autoria da psiquiatra da infância e da adolescência Berenice Rheinheimer, o trabalho trouxe dados alarmantes, indicando tendência de forte aumento nas tentativas no universo dos oito aos 17 anos (abaixo dessa idade, os casos são automaticamente classificados como acidente). Em 2005, foram 492 episódios. Em 2013, apesar de a população da faixa etária ter recuado consideravelmente, os casos subiram para 626.

– Uma das coisas que chocam em relação a esses números é que a comunicação de casos ao CIT é voluntária. A realidade pode ser bem pior do que a registrada – sustenta Berenice.

Se o suicídio entre adultos já está envolto por silêncios e tabus, é ainda mais entre crianças e adolescentes. A sociedade, em geral, não aceita a ideia de que eles possam querer se matar. Pais de adolescentes que se mataram tendem à negação, uma reação ao sentimento de culpa. Além disso, é escasso o conhecimento sobre que lógica rege os suicídios juvenis e sobre como preveni-los – os estudos e a experiência existentes dizem respeito basicamente a pessoas mais velhas.

A pesquisa de Berenice ajuda a iluminar algumas das diferenças e particularidades. Ao analisar os dados do CIT, ela descobriu que crianças e adolescentes tendem a tentar o suicídio no segundo semestre do ano – com destaque para o mês de outubro –, talvez como um reflexo de dificuldades escolares. Entre adultos, existem estudos demonstrando que a preferência é pelo verão. Berenice percebeu também que as crianças atentam contra a vida em dias de semana – nas outras faixas etárias, o ato tende a ocorrer no sábado ou no domingo.

– Chamou a atenção que a véspera de Natal foi o dia com menos casos ao longo de nove anos. Depois, veio o Dia das Crianças. É um achado que não esperávamos. Não há relato sobre isso em lugar nenhum. Pode ter relação com o fato de nessas datas as crianças estarem em casa, com as famílias, mais satisfeitas. É uma hipótese – observa a pesquisadora.

As tentativas de suicídio por autointoxicação envolvendo crianças e adolescentes também espantam em razão das substâncias utilizadas. Enquanto em outros países os relatos envolvem a ingestão de analgésicos, por aqui as tentativas relacionadas a medicamentos são principalmente com antidepressivos (23,47%), ansiolíticos (20,76%), antitérmicos (15,20%) e anticonvulsivantes (13,01%). Em 98,5% das situações, a tentativa é realizada em casa.

– Como é que nossas crianças estão tendo acesso a essa medicação? É uma falha das famílias e da área da saúde, por não orientar que esses medicamentos têm de ficar escondidos – alerta Berenice.

 

Fonte: Unisinos



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