Desejo : privilégio humano

Publicado em 08/06/2012 | Categoria: Notícias |


O desejo é uma tensão em direção a um fim considerado fonte de satisfação. Trata-se, portanto, de uma aspiração, de uma inclinação em direção àquilo que não se possui. É uma inclinação algumas vezes consciente, outras inconsciente.

O desejo se distingue da necessidade fisiológica ou psicológica que o acompanha por estar plantado no centro da afetividade humana. Ele nos diz que somos incompletos, carentes, limitados e finitos. Um ser que de nada carecesse não desejaria nada. Seria um ser perfeito, um deus. Por isso a filosofia grega antiga tomava o desejo como característica de seres finitos e imperfeitos, que não são o Bem, mas podem desejá-lo; que não possuem a Beleza, mas podem desejá-la e procurá-la. Como diz Santo Agostinho: “O que é o desejo, senão o apetite de possuir o que ainda falta?“

Mas não se trata de possuir coisas, e sim de deixar-se atingir e convocar pela interpelação do outro. Esse apelo fora dos padrões da normalidade medíocre chega ao fundo do ego fechado em sua autocomplacência e abre-o ao reconhecimento da diferença.

Segundo o filósofo judeu Emmanuel Levinas, o desejo fere e fragmenta a interioridade humana, descobrindo-lhe o vazio de sua suficiência. E dali jorra no Eu uma fome que nada poderá satisfazer e nutrir, uma fome insaciável. Isso é o “desejo”.

É algo que transcende a satisfação e a insatisfação. Significa uma distância maior, uma não posse mais precisa que a posse, uma fome que se nutre não de pão, mas sim da fome mesma. Como diz Adélia Prado: “Não quero faca nem queijo. Quero a fome”.

O desejo metafísico, que vai além da physis (ou seja, do nível sensorial, puramente natural), situa-se nas antípodas da posse e da satisfação total. Ao invés, está sempre conectado à decepção da satisfação ou ainda à exasperação da não satisfação. É um desejo que quanto mais deseja, mais vê crescer em si sua capacidade de desejar. Seu dinamismo fundamental não é a necessidade que deve ser satisfeita, mas a abertura ao outro. Sob a força desse desejo, o eu contém então mais do que poderia normalmente conter, rompe o cárcere de sua subjetividade ego centrada e da palidez de uma identidade voltada para a repetição infindável e monótona do já conhecido.

O desejo que impulsiona para o outro não encontra sua fonte em necessidades insatisfeitas que o mesmo sujeito se encontra ávido por preencher, mas em um “mais”, em um “excesso” que só a infinitude pode atender. Anterior a todo conhecimento e a toda questão, o desejo é cavado no mais profundo do ser humano pela alteridade do outro humano e do totalmente Outro misterioso, que nós chamamos Deus. Porque somente o desejo, com sua sede nunca saciada, está apto a abrir-se ao Infinito que nada pode conter.

O desejo sussurra ao ouvido da pessoa humana, incessantemente, qual é sua condição: ser criado, humano, finito e limitado. Mas capaz de desejar o Ilimitado, o Infinito. O espaço aberto na subjetividade humana pelo desejo da transcendência e a abertura para a interioridade, para o Mistério, pode ser a força capaz de romper a materialidade do consumismo, a alienação que se nega a ver os conflitos que dividem o tecido social. Neste sentido, o desejo é condição de possibilidade para uma atitude crítica diante da sociedade de consumo e da exterioridade de sensações.

O consentimento ao desejo contradiz a lógica do mercado, altera as relações mercantilistas do consumo e permite sonhar em construir outro tipo de sociedade e cultura. A restauração da capacidade desejante do indivíduo e da sociedade vai na direção contrária à corrente da excitação constante das sensações; contra o predomínio de uma emocionalidade “líquida”, sem discernimento; contra a redução da pessoa humana a um mero consumidor passivo de produtos que lhe são impostos por tal tipo de sociedade.

Desejar é tomar posse dos próprios sentidos para aquilo que realmente foram feitos: ver, escutar, sentir, saborear, tocar. Escutar a beleza da música composta sob inspiração do artista. Mas também escutar os clamores que brotam da própria interioridade, assim como os clamores do próximo por justiça e eqüidade.

Autor: Maria Clara i Bingemer

Fonte: Amai-vos



Deixe um comentário

A Voz do Pastor

Notícias em Destaque

Oremos pelo Afeganistão Consagração à Nossa Senhora de Guadalupe Homenagens aos nossos diáconos permanentes Homenagem aos nossos padres Visita guiada na Igrejinha Histórica 6 casais recebem sacramento do matrimônio em casamento comunitário Assembleia Paroquial 2019: Como podemos evangelizar melhor? ENAJO - Missa de encerramento Juventude Orionita em Niterói. Evento reuniu mais de 500 jovens na Paróquia Espaço de Ludicidade e Leitura é inaugurado na Creche Dom Orione Festejando São Francisco Xavier Salão nobre da Igreja Matriz é inaugurado Missa Domingo de Ramos na Cachoeira Encerramento das Festividades de São Luis Orione Celebrando a Caridade: São Luis Orione! Festa de Natal 2016: sua doação com destino certo Festejando o dia de São Francisco Xavier Assembleia Paroquial 2016 Capela das Almas Mês Vocacional Dia dos Pais Dia do Padre Festa Junina 2016 da Paroquia São Francisco Xavier Missa em memória de Santo Antônio Festa do Imaculado Coração de Maria Festividades em Honra ao Sagrado Coração de Jesus Padre Jô visita a Paroquia e nos encanta com seu canto e seu carinho. Dia da Ascensão do Senhor, dia das Mães e 50º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Nosso novo Pároco, padre Magno, seja bem-vindo! Batizados: os novos membros da Comunidade Paroquial Henrique: “Viver e dar a vida cantando o Amor!” Salve São Francisco Xavier, Padroeiro das Missões! Paroquianos homenageiam São Francisco Xavier Pe. Anísio fala da importância da confiança e dependência em Deus. Viva a Vida do Pe. Geraldo Dias! Romaria da Família Orionita ao Santuário de Aparecida do Norte Paroquianos participam da Romaria Arquidiocesana a Aparecida Missa na Capela Imaculado Coração de Maria: “Criai ânimo, não tenhais medo!” Missa da Ascensão do Senhor, Dia das Comunicações Sociais e Dom Orione Missa na capela São João Paulo II Festa na Capela Bom Pastor e Homilia do papa Francisco Assembleia Paroquial 2015 Missa de São Francisco Xavier Paróquia em Fests Missa de Nossa Senhora das Graças Movimento Shoenstatt unido pela Catedral O desafio da solidariedade Um dia voltado à ação social na Cachoeira Vigília Missionária, mais um passo rumo a unidade! Pascom comemora com missas o 48º Dia Mundial das Comunicações Sociais Caminhando rumo a Fraternidade Posse do Pe. Geraldo Dias, novo pároco da Paróquia. Inaugurada a Capela São Luiz Orione Pe. Jô é homenageado no “Encontro Musical” Novo endereço do site da Paróquia Novo Pároco da Paróquia São Francisco Xavier Dia de São Francisco Xavier Missa de Nossa Senhora das Graças Nossos jovens, protagonistas da história As Vocações na Igreja Semana da Família: o valor do testemunho transmitido Semana da Família 2013 Visita do Papa ao Brasil- Jornada Mundial da Juventude 2013 Missa dominical, com muitos motivos para render Graças Peregrinação da Paróquia São Francisco Xavier Cristo ressuscitou! Feliz Páscoa! Caminhada da juventude com Cristo! Primeira Missa do Papa Francisco Primeiro Angelus – Papa Francisco Habemus Papam !!! Jorge Mario Bergoglio – Papa Francisco Bento XVI comunica a sua renúncia como Papa Paroquianos acolhem o novo Vigário Paroquial Saudade-Missao-Disponibilidade Celebração Eucarística - São Francisco Xavier Festejando São Francisco Xavier Celebração Eucarística da Crisma Festa da Pastoral de Conjunto Ano da Fé Uma análise geral do Sínodo Mensagem final do Sínodo O silêncio e a nova evangelização O papel o leigo na missão da Igreja Paróquia em Ação no mês das missões Paróquia Celebra o Dia Mundial da Missões Série 50 anos do Vaticano II Dia do Catequista Paróquia realiza assembleia para a construção da unidade paroquial Semana da Família Mensagem de agradecimento aos dizimistas Pastoral da Juventude Renovada