Como viver na alegria

Publicado em 18/11/2013 | Categoria: Notícias |


 papa alegria

Por Gilberto Cunha

 

A terceira e última postura que o papa Francisco nos convidou a viver durante sua Homilia na Casa da Mãe Aparecida, em julho, em sua visita ao Brasil, tem sido um tema bem recorrente em seu ministério. Ele realmente acredita e vive essa afirmação: “o cristão é alegre, nunca está triste”. Quem acompanhou a sua visita ao Brasil ficou encantado com sua alegria e simpatia. A sua alegria que contagia é parte da sua forma de ser. Mas que alegria é essa que o papa Francisco vive e nos convida viver? De onde brota essa alegria?

Em primeiro lugar, por saber que temos um Pai que nos ama, um “Deus que nos acompanha” incondicionalmente. Isso nos foi mostrado plenamente por Jesus.

Desde os inícios, esse Pai amoroso tem se manifestado e cuidado da gente. Basta lembrar de sua Aliança com o Povo de Israel, como ele cuidou deles apesar de suas constantes quedas. O Amor do Pai manifesta-se como misericórdia “que prevalece sobre o pecado e sobre a infidelidade do povo eleito” (1). Ele é um “Deus compassivo e misericordioso, lento para a ira e cheio de bondade e de fidelidade” (2])

O Amor do Pai segue durante toda a história da salvação até manifestar-se de forma definitiva no seu Filho Jesus. É Cristo que nos mostra o rosto do Pai. Uma das passagens onde podemos entrar no coração do Pai e compreender o quanto Ele nos ama é a “parábola do filho pródigo” (Cf. Lc 15,11-32). Sobre essa parábola, o Beato João Paulo II tem uma profunda reflexão no quarto capítulo de sua encíclica Dives in misericórdia.[3] Deixo apenas um trecho para poder nos ajudar a compreender melhor o amor que o Pai nos tem.

“A misericórdia apresentada por Cristo na parábola do filho pródigo tem a característica interior do amor, que no Novo Testamento é chamado «agape». Este amor é capaz de debruçar-se sobre todos os filhos pródigos, sobre qualquer miséria humana e, especialmente, sobre toda miséria moral, sobre o pecado. Quando isto acontece, aquele que é objeto da misericórdia não se sente humilhado, mas como que reencontrado e «revalorizado». O pai manifesta-lhe alegria, antes de mais por ele ter sido «reencontrado» e, por ter «voltado à vida». Esta alegria indica um bem que não foi destruído: o filho, embora pródigo, não deixa de ser realmente filho de seu pai.” (4)

Como não nos alegrarmos com um Pai assim?

 

Outro motivo de estarmos alegres é saber que somos vitoriosos pelos méritos de Cristo. Ele venceu a morte e o pecado. Ele ilumina as nossas vidas e nos abre caminhos de plenitude. Ele nos oferece “algo superior à Copa do Mundo! Jesus oferece-nos a possibilidade de uma vida fecunda, de uma vida feliz e nos oferece também um futuro com Ele que não terá fim, na vida eterna”. (5)

Quem acompanhou a Jornada Mundial da Juventude certamente experimentou essa alegria presente especialmente nos milhões de jovens que contagiaram o Rio de Janeiro. Eles vieram sobre a cidade como uma grande onda de entusiasmo, provando para todo o mundo que ser amigo de Jesus vale a pena, que ser um jovem católico é caminho de realização.

Fizeram concreto aquilo que o papa Francisco pré-anunciava aqui na Casa da Mãe, antes de começar sua participação na JMJ: “Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se ‘incendiará’ de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado”.[6] É verdade! Eles são alegres porque amam Cristo e são amados por Ele! Por tudo isso, o Papa tem falado que não é admissível um cristão pessimista, viver com cara amarrada como se estivesse em um constante estado de luto. A postura do cristão, inclusive nos momentos difíceis, é a que testemunhou e nos convida a viver o apóstolo São Paulo: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos!” (Fl 4,4)

 

“Temos uma Mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos”

 

Como se não bastasse a alegria de ter um Pai que nos ama, um amigo que caminha conosco e nos abre caminhos de felicidade, Jesus quer fazer mais: nos dá a sua Mãe. O papa Francisco fez memória do quanto é importante para a vida do cristão a presença de Santa Maria, o quanto a Mãe Aparecida é importante para nós brasileiros.

A experiência de ter uma Mãe que sempre cuida da gente, intercedendo a seu Filho por nós com certeza enche os nossos corações de alegria. A presença da Mãe Aparecida tem sido fundamental na vida de tantos devotos. O fato de que o número de visitantes ao Santuário esteja crescendo a cada ano manifesta como esse amor tem sido correspondido, como a Mãe tem atendido com solicitude e carinho o pedido dos seus filhos: “mostrai-nos Jesus”.

“O discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro”, nos lembrou o Papa Bento XVI quando esteve aqui no Santuário em 2007. E como podemos ser discípulos de Cristo? Na escola de Maria. Com Ela, certamente seguiremos Jesus, nossa luz. Também somos missionários com Maria, na verdade somos cooperadores de sua missão: fazer discípulos do seu Filho a todas as pessoas. Saiamos ao encontro das pessoas, guiados por Maria!

Gostaria de concluir essa série sobre as palavras do papa Francisco, com suas mesmas palavras aqui no Santuário.

“Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ela nos pede: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2,5). Sim, Mãe, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja!” (7)

 

Notas:

 

[1] João Paulo II, Dives in misericórdia, 4.

[2] Ex 34,6.

[3] http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_30111980_dives-in-misericordia_po.html

[4] João Paulo II, Dives in misericórdia, 6

[5] Papa Francisco, Vigília com os Jovens durante a JMJ, 27/07.

[6] Papa Francisco, Santa Missa na Basílica do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida , 24/07/2013

[7] Papa Francisco, Santa Missa na Basílica do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida , 24/07/2013

 

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Como conservar a esperança


Por Irmão Gilberto Cunha

 

O papa Francisco, durante sua visita à Casa da Mãe Aparecida, no mês de julho deste ano, destacou a importância de buscar a Cristo batendo na casa da Mãe. Ele mesmo quis antes de começar a Jornada Mundial da Juventude visitar o Santuário e “bater à porta da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um país e de um mundo mais justo, solidário e fraterno”. Para isso, nos convidou a viver três posturas: Conservar a esperança, deixar-se surpreender por Deus e viver na alegria. Sobre a primeira postura gostaria de refletir sobre.

Muitas vezes em nossas vidas, experimentamos muitas dificuldades que podem nos levar a desanimar, a perder a esperança. Frente a todas essas dificuldades, o papa nos fala: “Tenham sempre no coração essa certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações!” A luz que ilumina nossas vidas e que nos permite manter a chama sempre acesa é Cristo. Ele é “nossa esperança!” (Tm 1,1)

O tema deste ano da Novena e Festa da Padroeira faz alusão aos mistérios luminosos. Cristo é a nossa luz, que ilumina as nossas trevas e nos aponta o caminho a seguir. E quem nos conduz a Cristo certamente é Maria. A mensagem do papa Francisco na Casa da Mãe está em total sintonia com o tema deste ano. Como não ver mais uma delicadeza de Deus, um gesto singelo da Mãe?

No dia seguinte à visita ao Santuário, durante a festa de acolhida na Praia de Copacabana, o papa Francisco falou novamente sobre a esperança: “´bote esperança´ e todos os seus dias serão iluminados e o seu horizonte já não será escuro, mas luminoso”. Na Vigília com os jovens durante a JMJ falou sobre o fundamento de nossa esperança: Cristo. Ele “nos oferece algo maior que a Copa do Mundo, a possibilidade de uma vida fecunda, de uma vida feliz e nos oferece também um futuro com Ele que não terá fim, na vida eterna”.

O mundo muitas vezes busca apagar essa luz, oferecendo “ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros.” Sabemos que nossa fome de infinito só pode ser saciada por alguém infinito, por Cristo. Não nos deixemos iludir por essa cultura do passageiro e do efêmero!


“Sejamos luzeiros de esperança!”

 

Diante desse horizonte que acabamos de falar, o papa nos faz um convite: sejamos luzeiros de esperança! Desde essa luz da esperança toda a realidade se ilumina e se vê de forma positiva, a vida passa a ter sentido e vale a pena ser vivida.

Ele pede que sejamos especialmente luzeiros para os jovens, encorajando-os a serem generosos e protagonistas na construção de um mundo melhor. Lembremos que eles são o futuro da Igreja e da sociedade. “Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo”. Essa responsabilidade ele deu especialmente às pessoas mais experientes (durante o encontro com os argentinos na catedral da Sé enfatizou a necessidade dos jovens de escutar os anciãos, receberem seus valores, aprenderem de sua sabedoria).

Muito significativo que o papa Francisco tenha colocado o Santuário Nacional como um dos lugares de referência onde podemos encontrar esses valores: “Neste Santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase que apalpá-los: espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais profunda na fé cristã”.

Olhar a Maria, Mãe da Esperança

 

Certamente do Santuário emana todos esses valores, emana a chama da esperança porque aí habita aquela que é a Mãe da Esperança, aquela que viveu todos esses valores em plenitude. Ela quer que todos os seus filhos sejam semelhantes a Cristo o seu Filho. Como não aprender a viver a esperança na escola de Maria?

Portanto, caros devotos, com a Mãe Aparecida, sigamos Jesus, nossa luz e certamente seremos felizes!.

 

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Deixar-se surpreender por Deus

 

O papa Francisco, em uma Homilia proferida durante a Jornada Mundial da Juventude, no Santuário Nacional de Aparecida, convidou-nos a constantemente “Deixar-se surpreender por Deus”. Ele nos fala que quem vive a esperança sabe que, “mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende”. Mas como viver essa atitude na minha vida cotidiana, em cada coisa que faço?

O papa nos mostra como modelo a história do Santuário: três pescadores depois de um dia inteiro sem apanhar peixe encontram nas águas do Rio Paraíba a imagem da Senhora Aparecida. Sabemos que na história os pescadores após encontrarem a imagem milagrosamente têm uma pesca abundante e conseguem o que precisavam para atender ao conde de Assumar. O Papa Francisco vai além, ao essencial desse episódio para entendermos mais como Deus atua: “Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, torna-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende […] sempre nos reserva o melhor.

Realmente Deus nos surpreende! Basta fazermos agora brevemente uma memória de quantas coisas boas Ele fez durante toda a nossa vida, como a minha história está totalmente marcada por sua bondade e providência, que apesar de minhas misérias, como um Pai amoroso cuida de mim. Podemos nos perguntar, o que Deus espera de mim então? Ele espera que eu me deixe “surpreender por seu amor, que acolhamos as suas surpresas” Ele quer que confiemos nEle! O Papa em outra ocasião disse que mais difícil que amar a Deus é deixar-se amar por Ele. Nós muitas vezes em nossa autossuficiência e orgulho queremos resolver as coisas por nossa conta e esquecemos constantemente que Deus quer atuar na minha vida.

Deixar-se surpreender por Deus não implica uma atitude passiva, onde esperamos que tudo caia do céu. Como os pescadores, Deus quer que eu coloque a minha pequena colaboração. Basta que eu deixe um pedacinho de terra boa para Ele colocar a boa semente e dar frutos abundantes em minha vida. Deus quer, portanto, que eu coopere com a sua graça, em palavras de Santo Inácio de Loyola: “Rezar como se tudo dependesse de Deus e trabalhar como se tudo dependesse de nós”.

 

Deixar-se surpreender por Deus nas coisas simples da vida

 

Deus constantemente nos surpreende no singelo, nas coisas simples da vida. Muitas vezes nós perdemos a capacidade de ver a sua ação nas pequenas coisas e ficamos esperando grandes sinais, grandes milagres. Cada instante é uma chance de eu perceber esse amor que Ele tem por mim. Se eu vivo cada momento ordinário de forma extraordinária, certamente perceberei a sua ação e serei surpreendido. Pense agora na quantidade de ocasiões que você tem em apenas um dia para ser surpreendido por Ele. Um encontro com alguém, um gesto de bondade, uma palavra que alguém me dá, uma paisagem que vejo, enfim, infinitos momentos em que Deus me fala, busca me surpreender. Mas, por não prestar atenção, por estar disperso em tantas preocupações, por não fazer silêncio em meu interior, acabo não percebendo.

Outro dia em uma entrevista o Papa Francisco disse que a Igreja precisa ser mais simples, mais próxima. Certamente é no simples onde Deus mais se manifesta. Ele escolheu a brisa para manifestar-se a Elias.

 

Aprender de Maria a deixar-se surpreender por Deus

 

Em sua Homilia no Santuário o Papa Francisco comenta o episódio de Caná, que foi o Evangelho da Missa desse dia. Maria sabe que o seu Filho pode atuar e resolver aquela situação incômoda dos noivos. Está atenta, e dentre todos os convidados é a única que percebe e atua: “Eles não têm vinho”. Ela prepara os convidados para esse deixar-se surpreender por Deus, cooperando para que o seu Filho dê a eles o melhor vinho, o vinho novo. Confia plenamente em Deus, sabe que “longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança se esgota”.

Aprendamos da Mãe Aparecida a abrir nosso interior e deixar-nos surpreender por Deus. “Elevemos o olhar para Nossa Senhora. Ela nos ajuda a seguir Jesus, nos dá o exemplo com o seu “sim” a Deus: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38). Também nós o dizemos a Deus, juntos com Maria: faça-se em mim segundo a Tua palavra”.

A12, 01-11-2013.

 

 

Fonte: Dom Total



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