Bento XVI assina a exortação apostólica para o Oriente Médio

Publicado em 15/09/2012 | Categoria: Notícias |


''Quer também (a exortação) contribuir para um ecumenismo repleto de ardor humano, espiritual e caritativo'', disse o Papa

 

”Quer também (a exortação) contribuir para um ecumenismo repleto de ardor humano, espiritual e caritativo”, disse o Papa.

Como primeira compromisso no Líbano em sua viagem apostólica, o Papa Bento XVI visitou a Basílica de São Paulo, em Harissa, às 18h (horário local, 12h no Brasil) para a assinatura da Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Médio Oriente. Tendo em vista a aplicação frutuosa do documento, Bento XVI convidou todos a não terem medo, permanecerem na verdade e cultivarem a pureza da fé.

 

“Esta é a linguagem da Cruz gloriosa. Esta é a loucura da Cruz: a de saber converter os nossos sofrimentos em grito de amor a Deus e de misericórdia para com o próximo; e a de saber também transformar, seres atacados e feridos na sua fé e identidade, em vasos de barro prontos a serem cumulados pela abundância dos dons divinos mais preciosos que o ouro (cf. 2 Cor 4, 7-18)”.

O Pontífice considerou como providencial que a assinatura do documento tenha sido no dia da Festa da Exaltação da Santa Cruz, celebrado em 14 de setembro. “Exaltar a Cruz leva ao compromisso de ser arauto da comunhão fraterna e eclesial, fonte do verdadeiro testemunho cristão; é fazer um ato de esperança”.

Sobre a Exortação Ecclesia in Médio Oriente, Bento XVI disse que ela permite refletir sobre a situação presente para poder olhar para o futuro com o próprio olhar de Cristo. O Papa também destacou que o documento visa a um verdadeiro diálogo inter-religioso, fundado na fé no Deus Uno e Criador.

“Quer também (a exortação) contribuir para um ecumenismo repleto de ardor humano, espiritual e caritativo, na verdade e amor evangélicos, que vai buscar a sua força ao mandato do Ressuscitado: ‘Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos’ (Mt 28, 19-20)”.

Bento XVI terminou dizendo às Igrejas presentes no Oriente Médio para não temerem, porque o Senhor está com elas até o fim e a Igreja universal as acompanha com solidariedade humana e espiritual.

“É com estes sentimentos de esperança e encorajamento a ser protagonistas ativos da fé através da comunhão e do testemunho que, no domingo, entregarei a Exortação pós-sinodal Ecclesia in Médio Oriente aos meus venerados Irmãos Patriarcas, Arcebispos e Bispos, a todos os presbíteros, aos diáconos, aos religiosos e religiosas, aos seminaristas e aos fiéis leigos”, concluiu.

A visita à Basílica de São Paulo foi o primeiro e único compromisso do Papa no Líbano nesta sexta-feira. O Pontífice retoma suas atividades no país neste sábado, 15, com uma Santa Missa privada, às 8h (horário local, 2h no Brasil).

O próximo discurso de Bento XVI será durante o encontro com os membros do governo, das instituições da República, com o corpo diplomático, chefes religiosos e representantes do mundo da cultura. O encontro será no Salão 25 de maio do Palácio Presidencial de Baabda, às 11h15 (horário local, 5h15 em Brasília).

Leia a íntegra do discurso do Papa Bento XVI na Basílica de São Paulo no Líbano

 

Discurso

Viagem Apostólica de Bento XVI ao Líbano

Basílica de São Paulo, Harissa

Sexta-feira, 14 de setembro de 2012

 

 

Senhor Presidente da República,

Sua Beatitude, venerados Patriarcas,

Amados Irmãos no Episcopado e membros do Conselho Especial do Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente,

Ilustres Representantes das Confissões religiosas, do mundo da cultura e da sociedade civil,

Prezados irmãos e irmãs em Cristo, queridos amigos!

Agradeço ao Patriarca Gregorios Laham as suas palavras de boas-vindas, e ao Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, D. Nikola Eterović, as suas palavras de apresentação. As minhas saudações calorosas aos Patriarcas, a todos os Bispos orientais e latinos reunidos nesta linda Basílica de São Paulo, e aos membros do Conselho Especial do Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente. Alegro-me também com a presença das delegações ortodoxa, muçulmana e drusa, bem como as do mundo da cultura e da sociedade civil. Saúdo com afeto a amada Comunidade greco-melquita que me acolhe. A vossa presença confere solenidade à assinatura da Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente, e testemunha que este documento, destinado sem dúvida à Igreja universal, reveste-se de uma importância particular para todo o Médio Oriente.

É providencial que este ato tenha lugar precisamente no dia da Festa da Exaltação da Santa Cruz?, cuja celebração nasceu no Oriente em 335, na sequência da Dedicação da Basílica da Ressurreição sobre o Gólgota e o sepulcro de Nosso Senhor construída pelo imperador Constantino, o Grande, que venerais como santo. Dentro de um mês, celebrar-se-ão os 1700 anos da aparição que lhe fez ver, na noite simbólica da sua incredulidade, o monograma cintilante de Cristo enquanto uma voz lhe dizia: «Por este sinal, vencerás!». Mais tarde, Constantino assinou o Édito de Milão e deu o seu nome a Constantinopla. Parece-me que a Exortação pós-sinodal pode ser lida e interpretada à luz da festa da Exaltação da Santa Cruz e, de forma particular, à luz do monograma de Cristo, o X (ghi) e o P (ro), as duas primeiras letras da palavra OD4FJ`H. Tal leitura leva a uma descoberta autêntica da identidade do batizado e da Igreja e, ao mesmo tempo, constitui como que um apelo ao testemunho na comunhão e pela comunhão.

Porventura a comunhão e o testemunho cristãos não estão fundados no mistério pascal, na crucifixão, morte e ressurreição de Cristo? Não é aqui que encontram a sua plena realização? Existe um vínculo indivisível entre a Cruz e a Ressurreição, que não pode ser esquecido pelo cristão; sem este vínculo, exaltar a Cruz significaria justificar o sofrimento e a morte vendo neles apenas uma fatalidade. Para um cristão, exaltar a Cruz quer dizer entrar em comunhão com a totalidade do amor incondicional de Deus pelo homem; é fazer um ato de fé. Exaltar a Cruz, na perspetiva da Ressurreição, é desejar viver e manifestar a totalidade deste amor; é fazer um ato de amor. Exaltar a Cruz leva ao compromisso de ser arauto da comunhão fraterna e eclesial, fonte do verdadeiro testemunho cristão; é fazer um ato de esperança.

Debruçando-se sobre a situação atual das Igrejas no Médio Oriente, os Padres sinodais puderam refletir sobre as alegrias e as penas, os temores e as esperanças dos discípulos de Cristo que vivem nestes lugares. Deste modo, toda a Igreja pôde ouvir o grito ansioso e notar o olhar desesperado de tantos homens e mulheres que se encontram em situações humana e materialmente árduas, vivendo no medo e inquietação pelas fortes tensões, e que desejam seguir Cristo – Aquele que dá sentido à sua vida – mas frequentemente encontram-se impedidos; por isso, quis que a Primeira Carta de São Pedro fosse o fio condutor do documento.

Ao mesmo tempo, a Igreja pôde admirar o que há de belo e nobre nas Igrejas presentes nestas terras. Como não dar contínuas graças a Deus por todos vós (cf. 1 Ts 1, 2: I Parte da Exortação pós-sinodal), amados cristãos do Médio Oriente!? Como não O louvar pela vossa coragem na fé!? Como não Lhe agradecer pela chama do seu amor infinito que vós continuais a manter viva e ardente nestes lugares que foram os primeiros a acolher o seu Filho encarnado!? Como não Lhe elevar o nosso canto de gratidão pelos ímpetos de comunhão eclesial e fraterna, pela solidariedade humana constantemente manifestada por todos os filhos de Deus!?

A Exortação Ecclesia in Medio Oriente permite repensar o presente para considerar o futuro com o próprio olhar de Cristo. Com as suas orientações bíblicas e pastorais, com o seu convite a um aprofundamento espiritual e eclesiológico, com a renovação litúrgica e catequética preconizada, com os seus apelos ao diálogo, pretende traçar um caminho para chegar ao essencial: o seguimento de Cristo, num contexto difícil, e por vezes doloroso, que poderia fazer surgir a tentação de ignorar ou esquecer a Cruz gloriosa. Mas é precisamente então que é necessário celebrar a vitória do amor sobre o ódio, do perdão sobre a vingança, do serviço sobre a prepotência, da humildade sobre o orgulho, da unidade sobre a divisão.

À luz da festa de hoje e tendo em vista uma aplicação frutuosa da Exortação, convido todos a que não tenham medo, permaneçam na verdade e a cultivem a pureza da fé. Esta é a linguagem da Cruz gloriosa. Esta é a loucura da Cruz: a de saber converter os nossos sofrimentos em grito de amor a Deus e de misericórdia para com o próximo; e a de saber também transformar, seres atacados e feridos na sua fé e identidade, em vasos de barro prontos a serem cumulados pela abundância dos dons divinos mais preciosos que o ouro (cf. 2 Cor 4, 7-18). Não se trata aqui de uma linguagem puramente alegórica, mas de um apelo premente a praticar atos concretos que configuram cada vez mais a Cristo, atos que ajudam as diversas Igrejas a refletir a beleza da primeira comunidade dos crentes (cf. At 2, 41-47: II parte da Exortação); atos semelhantes aos do imperador Constantino, que soube testemunhar e fazer sair os cristãos da discriminação, permitindo-lhes viver, aberta e livremente, a sua fé em Cristo crucificado, morto e ressuscitado para a salvação de todos.

A Exortação Ecclesia in Medio Oriente oferece elementos que podem ajudar a um exame de consciência pessoal e comunitário, uma avaliação objetiva do compromisso e desejo de santidade de cada discípulo de Cristo. A Exortação abre ao verdadeiro diálogo inter-religioso fundado na fé em Deus Uno e Criador. Quer também contribuir para um ecumenismo repleto de ardor humano, espiritual e caritativo, na verdade e amor evangélicos, que vai buscar a sua força ao mandato do Ressuscitado: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 19-20).

Nas suas diversas partes, a Exortação quer ajudar cada um dos discípulos do Senhor a viver plenamente e a transmitir realmente aquilo que ele mesmo se tornou pelo batismo: um filho da Luz, um ser iluminado por Deus, uma lâmpada nova na escuridão tenebrosa do mundo para que das trevas brilhe a luz (cf. Jo 1, 4-5; 2 Cor 4, 1-6). Este documento quer contribuir para despojar a fé daquilo que a ensombra, de tudo o que pode ofuscar o esplendor da luz de Cristo. Assim a comunhão é uma autêntica adesão a Cristo, e o testemunho é uma irradiação do mistério pascal que dá um sentido pleno à Cruz gloriosa. Nós seguimos e «proclamamos Cristo crucificado (…) poder de Deus e sabedoria de Deus» (1 Cor 1, 23-24: cf. III parte da Exortação).

«Não temas, pequenino rebanho» (Lc 12, 32) e lembra-te da promessa feita a Constantino: «Por este sinal, vencerás!». Igrejas presentes no Médio Oriente, não temais, porque o Senhor está verdadeiramente convosco até ao fim do mundo. Não temais, porque a Igreja universal vos acompanha com a sua solidariedade humana e espiritual. É com estes sentimentos de esperança e encorajamento a ser protagonistas ativos da fé através da comunhão e do testemunho que, no domingo, entregarei a Exortação pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente aos meus venerados Irmãos Patriarcas, Arcebispos e Bispos, a todos os presbíteros, aos diáconos, aos religiosos e religiosas, aos seminaristas e aos fiéis-leigos. «Tende confiança!» (Jo 16, 33).

Por intercessão da Virgem Maria, a Theotókos, invoco com grande afeto a abundância dos dons divinos sobre todos vós. Deus conceda a todos os povos do Médio Oriente viverem na paz, na fraternidade e na liberdade religiosa! Deus vos abençoe a todos (Lè yo barèk al-Rab jami’a kôm!)!

 

 

Fonte: Canção NovaRádio Vaticano



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