A doutrina sobre o Espírito Santo em São Basílio de Cesaréia, “o Grande”

Publicado em 24/11/2015 | Categoria: Notícias |


espirito santo

Em muito se deve a São Basílio, as palavras que nós rezamos no creio niceno-constantinopolitano de 381, pelas missas e celebrações litúrgicas a respeito do Espírito Santo, Terceira Pessoa da Santíssima Trindade: “Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; Ele que falou pelos profetas”. Surgem perguntas na fé proclamada: quem é o Espírito Santo? Qual é a relação dele com o Pai e o Filho? Buscando respostas, trazemos o pensamento de São Basílio de Cesaréia, Bispo, Padre da Igreja, denominado “o Grande” que viveu no século IV na Capadócia, hoje, Turquia. Ele foi um dos autores cristãos que contribuiu para a elaboração da doutrina sobre a divindade do Espírito Santo com uma reflexão teológica excelente, defendendo a Terceira Pessoa divina e influenciando toda a Tradição posterior.

1. A noção do Espírito Santo

Se nos primeiros 8 capítulos, Basílio deteve-se na relação do Filho com o Pai, do capítulo nove ao trinta, o Bispo de Cesaréia tratou da questão sobre o Espírito Santo trazendo presentes as noções que a Escritura diz sobre ele: “Espírito de Deus”, “Espírito da Verdade que procede”, “Espírito Santo”, “Espírito incorpóreo”, “imaterial” sem as dimensões de espaço e de tempo. A Ele voltam-se todos os que procuram viver a virtude, fazendo perfeitos os outros sem receber a perfeição. Ele é a plenitude da santidade, estando presente em todos aqueles e aquelas que trabalham pela paz e pelo amor neste mundo. Quem vive por Ele, terá a sua alma transformada da brutalidade do pecado na qual é envolvida, à beleza primitiva. Através dele, os corações se elevam, os fracos são tomados pela mão e os que progridem na virtude, tornam-se perfeitos. Ele dá à compreensão das coisas misteriosas, a permanência em Deus e o mais alto dos desejos humanos: tornar-se semelhante a Deus.

Basílio observou a palavra da Sagrada Escritura na qual o Senhor ordenou aos discípulos para batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo(cf. Mt 28,19). Com isso o Espírito Santo está em comunhão de natureza com as outras duas pessoas(Κoιvωvίαv). Basílio diz que a fórmula batismal é a prova suficiente da divindade do Espírito Santo. Lembrou ainda que os heréticos por atacarem a sã doutrina e a fé em Cristo, esqueceram a Tradição Apostólica porque se o batismo nos dá o dom da adoção filial, não se pode ser fiel a ele se trair-nos a tradição que nos introduziu nessa luz como filhas e filhos de Deus, unidas e unidos em Jesus Cristo.

 Basílio exortou, através da oração, àqueles que negaram a divindade do Espírito Santo em vista da sua conversão. Sua preocupação salvaguardou os ensinamentos sobre o batismo, a profissão de fé e a doxologia. Estas três realidades teológicas mantém viva a fé em Deus Uno e Trino e não deturpam a piedade popular. Negando-se a divindade ao Espírito Santo, nega-se Deus e por isso cai-se no vazio. Para Basílio, quem não crê no Espírito Santo como Deus, não acredita nem no Pai e nem no Filho como Deus.

O Espírito é ligado à adoração. Não se pode adorar o Filho, se não no Espírito Santo; nem se invoca o Pai, se não no Espírito de adoção. Ele conduz a pessoa à união com Deus. Com isto ele reforça a inseparabilidade do Espírito em relação ao Filho e ao Pai.

Basílio responde que a fórmula batismal põe as três pessoas divinas no mesmo plano, uma ao lado da outra, não uma após a outra, uma vez que elas coordenam-se na mesma linha e também na unidade da natureza. Os nomes de Pai, Filho e Espírito Santo foram manifestados por Jesus Cristo aos discípulos(cf. Mt 28,29).

Nós permanecemos fiéis à unidade divina e confessamos o caráter próprio das Pessoas. Em Deus Pai e em Deus Filho contemplam-se uma só imagem reflexa da divindade. O Pai é no Filho e o Filho é no Pai; são um só, segundo a comunhão de natureza; um e outro são um, não dois deuses. Única é a glória que rendemos a Deus, uma vez que a honra dada à imagem vai também ao protótipo. Um é também o Espírito Santo pronunciado singularmente unido ao Pai que é uno, pelo Filho que é uno, e por meio dele é completada a Trindade Santa. Como único é o Pai, único é também o Filho, assim também único é o Espírito Santo. Nós confessamos as três Pessoas divinas, sem desagregar o dogma da unidade em Deus.

2. O Espírito Santo possui a natureza divina

Diante dos adversários que contestavam o uso da doxologia, Basílio afirmou a glória do Espírito Santo. Ele é santo, como santo é o Pai e o Filho de modo que a sua natureza é divina. A santidade faz parte da plenitude da natureza de Deus. Ele não é santificado, mas santifica as pessoas. Ele sabe as coisas de Deus, como o espírito humano sabe as coisas do ser humano. Ele é eterno, preexistente e coexistente com o Pai e o Filho antes dos séculos. Na encarnação de Cristo o Espírito é inseparável das outras duas Pessoas. A remissão dos pecados vem através d’Ele.

Contra os pneumatômacos, afirmou Basílio que o Espírito Santo é da esfera do Pai e do Filho e está acima da criação. Buscando argumentos para provar a divindade do Espírito Santo, diz que Ele é Senhor porque o seu poder é inacessível de se contemplar. Como tem a comunhão de operações com o Pai e com o Filho é difícil intuí-lo na contemplação. Aquilo pois que se diz do Pai e que está além da compreensão humana diz-se do Filho e também do Espírito Santo.

Desta forma está atestada a indissolubilidade das 3 pessoas, não somente no agir, mas também no ser. É o Espírito que dá a graça aos carismas na Igreja. Isto não diminui em nada o Espírito e sim, antes o glorifica. É o “lugar” também dos santos e das santas pois Ele é o Santo, por excelência. Ele é anterior aos séculos e sempre esteve com o Pai e o Filho, o que exprime a sua união eterna.

Quando pensamos a dignidade própria do Espírito, o contemplamos com o Pai e com o Filho, pois rendemos graças a Deus pelos benefícios recebidos e ao mesmo tempo recebemos a ajuda do Espírito Santo para oferecer a Deus sacrifícios de louvores. A adoração no Espírito faz com que nossa mente se volte à luz divina. Da mesma forma como falamos uma adoração no Filho, como imagem do Pai, assim expressamos uma adoração no Espírito, como aquele que mostra a divindade do Senhor. Na iluminação do Espírito vemos o esplendor da glória de Deus. É uma impiedade segundo Basílio não reconhecer a comunhão de natureza divina do Espírito com o Filho e com o Pai. Na parte final do seu tratado, Basílio tem presentes autores que falaram sobre o Espírito como Irineu de Lião, Tertuliano, Clemente de Roma, Orígenes, entre outros que afirmaram que o Espírito é glorificado e tem comunhão de natureza com as outras duas pessoas. Basílio resgatou uma antiga fórmula cantada nas comunidades nos séculos II e III como ação de graças: Louvemos o Pai e o Filho e o Espírito Santo de Deus.

Conclusão

O obra de São Basílio, o Grande, sobre “o Espírito Santo” ajudou na fé do Espírito pela Igreja através das palavras introduzidas no Credo Niceno-Constantinopolitano de 381. Ela influenciou a tradição posterior a respeito da doutrina do Espírito Santo, pois era necessário, diante dos pneumatômacos, a afirmação da sua divindade em consubstancialidade com o Pai e o Filho, sendo uma Pessoa de natureza não criada como as outras duas Pessoas. O louvor, a adoração, a glória, as orações, o sinal da cruz, a fórmula do batismo, o creio que são dados ao Pai e ao Filho são igualmente concedidos ao Espírito Santo. O Deus único e Trino é adorado e glorificado pelas suas criaturas e pelo ser humano. Nós queremos viver a beleza deste mistério neste mundo e um dia contemplá-lo na eternidade. Vivamos na alegria e no amor que nos vem de Deus, pelo Espírito.

Dom Vital Corbellini

Bispo de Marabá – PA

Fonte: Rádio Vaticano



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