Dom Orione



São Luís Orione nasceu no dia 23 de junho em 1872, em Pontecurone, região do norte da Itália, num ambiente familiar de pobreza e de verdadeira religião.

Entrou para o Seminário Menor dos franciscanos em Voghera (1885-1886). Por motivo de saúde, deixou o Seminário e foi estudar em Turim, no Instituto de Dom Bosco. O encontro com São João Bosco, o santo apóstolo da juventude, orientou sua vida. Mais tarde entrou para o Seminário Maior Diocesano de Tortona, onde se ordenou sacerdote em 1895, fez sua primeira homilia como clérigo e foi nomeado Guardião da Catedral.

Das experiências religiosas e político-sociais daqueles anos de preparação ao ministério sacerdotal cheio de fervor, Luís Orione colheu estímulos fortíssimos para agir, num primeiro momento, em favor da salvação das crianças órfãs,sem condições, abandonadas e impossibilitadas de desenvolver os talentos de sua inteligência: num segundo momento, para abrir instituições de beneficência e refúgios de paz para os mais pobres e doentes, para os provados pela fome e pela miséria.

Presenciou guerras e terremotos, conhecendo a pobreza e a miséria humanas. Enfrentou dificuldades, porém soube dar uma resposta de caridade a tudo. Seu lema é “Restaurar tudo em Cristo” e com esta finalidade fundou a Obra da Divina Providência (1893). Sua ação passou, assim, por colônias agrícolas, de artesanato, escolas profissionais, casa de caridade e pelos Pequenos Cotolengos. Junto com seus sacerdotes e religiosos fundou congregações de Padres, Irmãs e Eremitas aos quais se juntaram leigos consagrados e os “Amigos de Dom Oreone”, Eremitas da Divina Providência(1898), as pequenas Irmãs Missionárias da Caridade (1915) e as Irmãs Cegas Sacramentinas Adoradoras(1927).

São Orione faleceu em 12 de março de 1940, numa casa de repouso em san remo. É chamado ‘o apóstolo da caridade de nossos tempos, pois dedicou toda a sua vida ao servoços dos mais pobres e marginalizados. Teve quatro grandes paixões: Jesus, Maria, o Papa e os pobres.

Desempenhando com fervor o Ministério Sacerdotal, realizou sua atividade social caritativa e educativa tanto na Itália como na América do Sul. Em todos os lugares brilhou pela sua santidade de vida.
Ele esteve no Rio de Janeiro em 1937, onde aos pés do Corcovado disse: “O que eu fiz pelo Brasil enquanto vivo, farei depois de morto”

O Papa João Paulo II o proclamou beato em 1980.
São Luís Orione foi canonizado no dia 16 de maio de 2004.

 

NOTAS HISTÓRICAS DA PRESENÇA DOS ORIONITAS NA IGREJINHA DE SÃO FRANCISCO, EM NITERÓI.

Saiba mais visitando o link abaixo:

HISTORICO DOS ORIONITAS EM NITERÓI

 

O ORIONITA SACERDOTE

Unidade de vocação e especificidade de ministério

30 de dezembro de 2009

 

Caríssimos Confrades,

No momento em que me ponho a escrever esta Circular na quietude devota e familiar do Eremitério de Santo Alberto, meu pensamento voa para a mudança de ano, voa para 2010 já tão próximo, e para a conclusão do sexênio 2004-2010 que baliza uma nova etapa de vida da Congregação.

O Capítulo geral, que concluiremos no próximo mês de junho, interpela a fidelidade criativa da Congregação. “Só a caridade de Cristo salvará o mundo”, somente a vida de Jesus sustenta e alimenta a vida da Congregação e de cada um de nós. No ícone de Dom Orione, escolhido pelo Capítulo geral, Jesus aparece pintado no coração do Fundador, ao mesmo tempo em que a chama da Caridade está acesa na sua mão. Como isso é significativo! É Jesus, o seu Espírito, a sua Caridade em nós, a fonte que alimenta a caridade das obras.

Somos feitos para Deus

Peço e espero que o Capítulo geral, já desenvolvido nas fases pessoal, comunitária e provincial, nos ajude a redescobrir o nosso ser para Deus, para a santidade.

Devemos ser “como hera agarrada a Cristo”, fazia eu votos na saudação natalina. Todos nós recebemos a graça de encontrar a árvore na qual nos enxertarmos, quem sabe, com ânsia e sofrida esperança, suplicando a vida. É a árvore da vida, a boa oliveira na qual fomos enxertados (Rm 11,24), a videira da qual somos ramos (Jo 15,1-6), a cruz de Cristo, da qual todos recebemos graça sobre graça, vida em abundância (Gal 2,20; Rm 6,5-11; Jo 10,10). “Estar com Cristo significa estar com a árvore da vida. Ele, de fato, é a árvore da vida para quem a Ele se liga” (Santo Agostinho).

Em Jesus, no Espírito de filhos, que alimenta a nossa vitalidade para o bem das Almas, é que está tecida e estruturada a nossa vida consagrada.[1] Jesus chamou os Doze para que ficassem com Ele (cf. Mc 3,14), e eles se tornaram irmãos entre si e apóstolos para os outros. A vida religiosa é “apostolica vivendi forma”, justamente porque sua organização imita a dos apóstolos com Jesus.

É para buscarmos uma especial união com Jesus que nos conduz o Ano sacerdotal que o Papa Bento XVI instituiu para ser celebrado desde a solenidade do Sagrado Coração, 19 de junho de 2009, até a mesma solenidade de 2010, apresentando como modelo o Cura d’Ars, São João Maria Vianney, patrono dos párocos.

“O Ano Sacerdotal – explicou o Papa – pretende contribuir para promover o compromisso de renovação interior de todos os sacerdotes, para fortalecer seu testemunho evangélico no mundo de hoje”, e para que os sacerdotes se sintam “amigos de Cristo, por Ele particularmente chamados, escolhidos e enviados”.[2]

O religioso orionita sacerdote

Neste contexto, julguei bem dedicar a reflexão desta Carta ao tema do sacerdote e mais particularmente à identidade e ao papel do religioso sacerdote. Perguntamo-nos: existe uma espiritualidade específica para o religioso sacerdote? Dom Orione nos transmitiu uma figura típica de religioso sacerdote segundo o carisma? A figura do orionita sacerdote é do mesmo tipo da figura do sacerdote diocesano com o simples acréscimo de algumas características de estilo e de espiritualidade?

Ao fenômeno da paroquialização da vida religiosa – de fato, chamada cada vez mais a suprir o insuficiente número do clero secular – não raro a corresponde a diocesenização dos religiosos sacerdotes.[3] Para muitos que vivem o ministério sacerdotal na paróquia, o carisma e a vida religiosa podem reduzir-se a uma aura espiritual de uma vida substancialmente paroquial-diocesana. Para quem, ao invés, está mais envolvido nas atividades caritativas, educativas ou assistenciais, surge o risco de perder a dimensão pastoral-eclesial do ministério sacerdotal.[4]

Não terá chegado o momento de tomarmos consciência, de avaliarmos e governarmos este fenômeno para fazer que surja melhor a unidade da vocação do religioso sacerdote nas mudadas condições eclesiais? O tema da identidade e do papel do religioso sacerdote é muito importante e crítico para o futuro da vida religiosa.[5] Em nossa Congregação esse tema se apresenta com características comuns a todos os Institutos de vida consagrada e com outras características particulares que herdamos da nossa história e da situação atual.

Pretendo apresentar algumas notas sobre este tema, pois o julgo fundamental para o futuro da Congregação. O tema está presente na reflexão promovida pelo Capítulo geral, no 3° núcleo temático dedicado aos “Ministérios da caridade no contexto atual”. Com referência ao Capítulo, cada qual pode desde já refletir e tomar decisões para viver, pessoal e comunitariamente, a unidade da vocação de religioso-orionita-sacerdote.

Dualismo vocacional e desvio para a figura diocesana

No imaginário coletivo a figura do sacerdote está naturalmente identificada com o sacerdote-pároco ou o sacerdote na paróquia, o sacerdote diocesano.

Nos últimos 40 anos, depois do Concílio Vaticano II, esse tipo de sacerdote se tornou o modelo público e como que o único do ministério sacerdotal. O sacerdócio vivido segundo os carismas de vida religiosa (anteriormente a forma predominante) se tornou secundário em relação ao sacerdócio institucional, ligado à paróquia, à diocese e ao território.

Observa-se que “a figura do religioso presbítero foi deixada na sombra, não só na literatura teológica e pastoral, mas ainda pelos próprios documentos oficiais. tanto do magistério como da vida religiosa”.[6] Com exceção de algum texto significativo,[7] habitualmente quando se faz menção de religioso sacerdote, a sua figura e o seu papel são apresentados em circunlocuções do tipo “pro sua parte”, “igualmente o sacerdote religioso”, “por quanto possível”, aplicando ao sacerdote religioso quanto se disse a respeito do sacerdote diocesano. Inclusive a norma do Código sobre o sacerdócio diz respeito simplesmente ao sacerdote em quanto tal e a norma sobre a vida religiosa trata do religioso em geral.[8]

Num mundo “secularizado” e “a ser evangelizado”, a dinâmica religioso-carismática a ser exercida pelo sacerdócio, que mira mais sobre o testemunho espiritual e caritativo, adquire um novo relevo e necessidade, em distinção e colaboração com a dinâmica diocesano-territorial. E, no entanto, a orientação atual, prevalente e crescente, é a de encaminhar também os religiosos sacerdotes ao serviço paroquial-territorial.[9]

Muitos reconhecem nesta prevalência “diocesana” na concepção e na prática do ministério sacerdotal – assimilada inclusive pelos próprios religiosos – um dos fatores da crise da identidade do religioso sacerdote e da vida religiosa de forma geral.

Teólogos da vida religiosa[10] e superiores religiosos apontam a necessidade de uma mais identificada compreensão e valorização do religioso sacerdote no quadro de uma realização pluralística do ministério ordenado na Igreja, na linha da Encíclica Pastores dabo vobis 31 e 74, onde se afirma que “os sacerdotes, que pertencem a ordens e a congregações religiosas, são uma riqueza espiritual para o inteiro presbitério diocesano, ao qual oferecem a contribuição de seus específicos carismas e de ministérios qualificados”.[11] Dessa forma é recomendado um exercício pluriforme do ministério sacerdotal, segundo os carismas da vida religiosa, e uma tal comunhão diocesana dos religiosos sacerdotes que evite a sua diocesenização, o que constituiria um empobrecimento e não um enriquecimento para a missão da Igreja.

É a partir da consagração/missão segundo o carisma que se poderá superar o dualismo de religioso “e” sacerdote. Os diversos ministérios da caridade, inclusive o sacerdotal, são, de fato, funcionais em relação ao único fim apostólico carismático organicamente intrínseco à missão da Igreja. Aqui está a unidade e a igualdade entre religiosos sacerdotes e religiosos irmãos e aqui está a unidade vocacional do religioso sacerdote.

Carisma e identidade do orionita sacerdote

É fácil compor a lista das características espirituais e apostólicas do orionita sacerdote, simplesmente tomando a biografia e os escritos de Dom Orione. Aliás, isso já foi feito e é sempre de fundamental importância.[12] Temos aí algo de específico, mas a maior parte do que encontramos se refere à identidade geral do orionita que, naquele tempo, valia primordialmente para o sacerdote.

Para definir a identidade do orionita sacerdote, parecer-me que seja mais frutuoso partir do núcleo carismático essencial transmitido por Dom Orione e bem conhecido na sua formulação: “Confiando na Divina Providência, colaborar para levar os pequenos, os pobres e o povo à Igreja e ao Papa, para ‘Instaurare omnia in Christo’, mediante as obras da caridade”.[13]

Seguindo o impulso do Fundador, nossa Congregação deu prioridade aos ministérios da caridade e, seguindo essa dinâmica e finalidade, intuiu e praticou também o ministério sacerdotal de seus religiosos que Dom Orione queria que fossem “os padres que correm, trabalhadores e apóstolos do trabalho” (Scritti 55, 38), “homens assim…padres santos, não folgadões nem padres de sala de visita, mas apóstolos de coração do tamanho do mar, padres que nunca parassem e fossem à frente[14] e que marchassem com “passo apostólico ” (Scritti 66, 454). A padres que lhe enviavam vocações escrevia que o seu não era um “Seminário destinado a formar padres seculares. Nosso seminário quer ser, com a graça de Deus, um pequeno Seminário de apóstolos da Fé e da caridade” (Scritti 93, 74). Nossas regras falam de um “corajoso apostolado de ponta” (Norma 116).

Don Orione – grande místico que “vivia em Deus, de Deus, e por Deus” – viveu e propôs uma vida pendular “do Deus adorado ao Deus servido no irmão”. Ele nos preparou a um apostolado extremamente ativo para tornar presente na sociedade Cristo e a Igreja, mediante as obras da caridade.[15]

Não há dúvida que Dom Orione, com seus Filhos da Divina Providência, viveu o sacerdócio na forma de sua apostolicidade típica, popular e ousada, voltada para a unidade da Igreja, ao redor do Papa e dos Pastores, mediante as obras de caridade. Este é um dado essencial para nós hoje – foi essa a missão carismática que devemos identificar e tomar como modelo; é este o seu e nosso exercício do ministério sacerdotal. O ser orionita dá qualificação interior e caracteriza a modalidade do nosso sacerdócio.[16]

A peculiaridade do religioso sacerdote consiste em viver e exercer o seu ministério em comunidade fraterna, seguindo uma particular dinâmica espiritual, na perspectiva da missão carismática comum. O sacerdócio não está “ao lado”, nem é uma “segunda identidade” com relação à vida religiosa, mas é expressão interna da identidade espiritual e apostólica do orionita, chamado a edificar e a difundir a Igreja mediante as obras da Caridade, incluindo a ação sacramental-pastoral. Isso vale tanto mais hoje que a Igreja recupera a Caridade como elemento constitutivo e ministerial da própria pastoral. Como lemos na carta Deus caritas est n. 22: “O exercício da Caridade… praticar o amor para com as viúvas e os órfãos, para com os encarcerados, os doentes e os necessitados de qualquer espécie faz parte da essência, tanto quanto o serviço dos Sacramentos e o anúncio do Evangelho. A Igreja não pode desleixar o serviço da Caridade, da mesma forma como não pode deixar de lado os Sacramentos e a Palavra”.

Nós, orionitas sacerdotes, fomos educados para não considerar sacerdotais somente os atos que requerem os poderes conferidos pelo sacramento da ordem, por mais excelsos que eles sejam, tais como são os atos sacramentais. “Padres da estola e do trabalho”, nos quis Dom Orione, porque“ não é somente o padre com a estola no pescoço que pode fazer o bem, mas também o padre que trabalha”.[17] Por isso a “diligente preparação ao sagrado ministério” dos religiosos orionitas aspirantes ao sacerdócio tem em conta, além da preparação para a “catequese, a pregação, o culto litúrgico e administração dos sacramentos” também “as obras de caridade” (Const 108).[18]

Esse estilo peculiar vale também para a estrutura das nossas obras: “Ao lado de cada obra de culto surja sempre uma obra de caridade”.[19] Todos recordamos muito bem como Dom Orione celebrou o seu jubileu sacerdotal junto ao clérigo Basílio Viano, doente, fazendo “aqueles serviços humildes, sim, mas santos que uma mãe faz para os seus meninos” e nos lembramos daquilo que ele depois escreveu: “Oh, muito melhor foi isso que todas as pregações que fiz… Senti que nunca tinha servido, de maneira mais sublime nem mais santa, a Deus no meu próximo, como naquele momento bem maior que todas as obras feitas nos vinte e cinco anos de meu ministério sacerdotal”.[20]

Estas anotações não devem se reduzir unicamente a características da espiritualidade pessoal do orionita sacerdote.[21] São indicações que apontam a estrutura da relação com a comunidade, com o apostolado de conjunto, com a finalidade carismática da Congregação. Do contrário, se cria o dualismo: religioso “e” sacerdote.

Concluindo, o sacerdócio do orionita se identifica, não pela exclusão de elementos, mas pela priorização da finalidade carismática do ministério da Caridade direcionado a fazer experimentar a paternidade de Deus e a maternidade da Igreja.

Prioridade da vocação religiosa

Dom Inazio Terzi, que foi superior geral e profundo conhecedor de Don Orione, observou corretamente que “em Dom Orione a vocação religiosa pessoal foi clara e precoce”, “poderíamos dizer, sem hesitar, que Dom Orione foi antes religioso” e que “ao indicar para os seus filhos o estado religioso, não apontava unicamente um meio como quê de reforço ou de maior potência interior” com respeito ao apostolado sacerdotal.[22]

De fato, desde as origens da Pequena Obra da Divina Providência, o exercício do ministério sacerdotal, como expressão da primária vocação religiosa, realizado em sinergia com outros ministérios da caridade, para o cumprimento da missão típica e comum a todos os membros. Portanto “sacerdotes, clérigos, irmãos coadjutores, eremitas, mesmo tendo diferentes ministérios e diferentes mansões, nos sentimos uma única família” (Const 54). Dom Orione e os Confrades das primeiras gerações, as Constituições e a tradição, inclusive a mais recente da Congregação, reconhecem e vivenciam a prioridade vocacional da vida religiosa em relação ao ministério sacerdotal. Este é o modelo e o critério de renovação também nas mudadas condições de hoje. “Religioso” indica o status, é substantivo, e não adjetivo, do sacerdote.[23]

Ainda hoje, a Congregação deve organizar os próprios ministérios orientando-os de acordo com a finalidade carismática de “levar os pequenos, os pobres e o povo à Igreja e ao Papa, para ‘Instaurare omnia in Christo’, mediante as obras da caridade”. E devemos acrescentar “lá onde as necessidades são maiores e menos atendidas”, porque Dom Orione insiste “é para os pobres” a formulação oficial do nosso carisma.[24]

Esta imprescindível especificidade carismática do orionita sacerdote é “a nossa razão e forma de ser na Igreja”, é o nosso dom na Igreja comunhão.[25]

Evidentemente o nosso ministério sacerdotal de orionitas, tanto nas paróquias como nas obras, se desenvolverá em colaboração com a Igreja local, com o Bispo e com o clero diocesano, mas tendo presente que, em toda Igreja local, é o clero diocesano que possui o específico carisma de governo e de serviço pastoral no território. Julgo contraditório dar ouvidos a alguns que, em nome da eclesialidade do carisma orionita justificam a renúncia a apresentar a própria identidade e pertença congregacional ou a limitam a coisa individual e ideal. Não, a nossa identidade – expressa também no apostolado e não só na espiritualidade – não representa nenhuma falta à comunhão eclesial, pelo contrário, é um dom .[26]

Os três aspectos do serviço do ministério sacerdotal na vida religiosa

Por todos é sabido que o nosso Instituto è qualificado como clerical porque “segundo a finalidade e o projeto pretendido pelo Fundador, e em força da legítima tradição, é governado por clérigos, assume o exercício das ordens sagradas e, como tal, é reconhecido pela autoridade da Igreja” (cf. CIC 588 §2).

O fato que a nossa Congregação seja “clerical” implica em que seja reservado aos religiosos sacerdotes o serviço da autoridade,[27] mas há dois outros tipos de serviço que os religiosos sacerdotes são chamados a prestar “segundo a finalidade ou o projeto pretendido pelo Fundador”: um em referência à comunidade e um em referência ao apostolado. Eles são chamados a ser “ministros de Deus, ardentes de zelo pelas almas… tanto as da comunidade, nas quais precederão a todos com o exemplo de uma vida religiosa coerente, como de quantos o Senhor confiar aos nossos cuidados, aos quais distribuirão o pão da Palavra e da Eucaristia” (Cost 55).

Além disso, nós orionitas sacerdotes devemos recordar que este ministério sacerdotal ad intra (em favor da comunidade e das obras) não é tudo; está em relação com o fim último ad extra, isto é, com a missão apostólica no horizonte eclesial-papalino de Instaurare omnia in Christo, fim último da comunidade religiosa e das obras de caridade.[28]

Dom Orione, no famoso texto destinado ao Bispo Dom Bandi para responder às objeções sobre a universalidade no exercício das obras de misericórdia” e sobre as “exageradas incumbências que se propunha assumir a Obra da Divina Providência”, afirmou categoricamente que “ela tem uma única e bem determinada finalidade, que se propõe, e, quanto a si mesma, não se propõe nenhuma outra, e essa obra é a santificação de seus membros, dos quais o Instituto se compõe, com o intuito de introduzir no povo cristão um dulcíssimo amor ao Santo Padre” (Scritti 72, 185). Isto é, na Congregação o ministério sacerdotal, como todos os demais ministérios da caridade[29] são endereçados e estão em função do fim apostólico carismático: “desenvolver no povo cristão um dulcíssimo amor ao Santo Padre”.

Que fique bem clara esta relação/relatividade do ministério com a finalidade carismática, se quisermos identificar e tornar dinâmicos os nossos ministérios da caridade sustentados pelo ministério sacerdotal.[30] É essa comum identificação carismática que determina os traços característicos de cada ministério e atividade desenvolvidos por nós orionitas.

Deixando de descrever os traços característicos do orionita sacerdote, eu me limito a indicar três claras analogias entre a vida da Igreja no tempo de Dom Orione e a vida da Igreja de hoje, entre a identidade do sacerdote transmitida por Dom Orione e a desejada nos tempos de hoje.[31]

Surgem com uma certa evidência três analogias: 1) a necessidade de fortalecer a unidade pastoral interna da Igreja; 2) a urgência de promover uma ação apostólica mais penetrante (hoje se diria a urgência da “nova evangelização” ou de uma “fronteira missionária”); e enfim 3) a convicção que a ação pastoral deva ser acompanhada pelo testemunho da caridade. A cada uma dessas necessidades da vida da Igreja correspondem atitudes, em Dom Orione e na identidade do orionita sacerdote por ele transmitida, atitudes que se podem resumir em três slogans bem conhecidos: 1) Padres filhos e não servos (ou seja: não meros funcionários); 2) Padres fora da sacristia;[32] 3) Padres de mangas arregaçadas nas obras de caridade.[33]

Ser religiosos “padres filhos, fora da sacristia e de mangas regaçadas” exige diversas modalidades concretas para o orionita nas obras e para o que estiver na paróquia, para o padre jovem e para o ancião, para quem é mais levado ao estudo, para a organização o para o trabalho manual, para quem se dedica mais aos jovens ou aos mais idosos, e assim por diante. Mas para todos significa vida sacrificada a Deus e doada ao bem do povo; em tempo integral e com paixão eclesial. “Com as devidas cautelas”, como escrevia Dom Orione, prudentes em respeitar os tempos de oração, de repouso, de estudo pessoal, mas prontos a aceitar uma piedade perturbada pela caridade para com o povo e uma pastoral sujeita aos regulamentos ordenados pelas necessidades alheias e aos apelos da Providência, prontos sempre, como uma mola esticada pela caridade, a voltar alegres a um ritmo mais de acordo com a regra.

O ano sacerdotal e o exemplo do santo Cura d’Ars

O ano sacerdotal é uma ocasião pastoral para tornar conhecida e amada a vocação e o serviço sacerdotal. Esperemos que sirva também para tornar conhecida e amada a específica vocação do religioso e do orionita sacerdote.

O Papa, entre as muitas figuras de santos sacerdotes, apresentou como modelo para o Ano Sacerdotal São João Maria Vianney. Uma figura de pároco de paróquia, porém a sua grandeza sacerdotal dá também para nós religiosos ótimos estímulos espirituais. Dom Orione costumava apresentá-lo como modelo de sacerdote, a ponto de nomeá-lo entre os seu santos intercessores no “Plano e programa da Pequena Obra da Divina Providência[34] e a ponto de marcar, na hora da refeição, a leitura da “vida do Venerável Cotolengo e do Cura d’Ars”.

Dom Orione exaltava a pureza, o ardor, a caridade, “o ardor do tão humilde Cura d’Ars”, observando que “O Santo Cura d’Ars, a quem foi entregue a Paróquia porque alguém insinuou que, a final das contas, ele sabia rezar o Pai Nosso, a Ave Maria e o Credo, e, no entanto, ele se mostrou o maior e melhor confessor da França” (Parola IX, 498). “Como foi possível que o santo Cura d’Ars se tenha tornado o mais famoso confessor da França? Ele que, intelectualmente falando, era um quase descartado? Porque ele foi um profundo adorador da Eucaristia que cultivava o espírito de oração” (Parola IX, 395).

Dom Orione apresentava São João Maria Vianney, ao lado de São Francisco de Sales, de Dom Bosco, de São Vicente de Paulo, como exemplo de paz interior: “eles eram inimigos da pressa, e ninguém trabalhou mais do que eles! Gente de valia!”.[35] Por outra parte observava Dom Orione que “O trabalho é a paz dos santos. Na vida dos santos não existe o “dolce far niente”(“sombra e água fresca”). Dom Bosco batalhava até arrebentar as pernas. Lacordaire, falando do Cura d’Ars, afirmou que ele tinha a ciência de Cristo” (Parola III, 41).

Em seus escritos Dom Orione cita o Cura d’Ars e muitas vezes repete a conhecida pergunta dele: “Que seria o mundo sem os Sacerdotes? E respondia o próprio Beato Cura d’Ars: a sociedade sem o sacerdócio seria uma jaula de animais ferozes, e o mundo recairia na pior barbárie» (Scritti 46, 218 e 56, 127).

Além da admiração, Dom Orione tinha devoção. Em seu caderno de celebrações anotou: “Recebi de um Padre velhinho, que me atendeu em confissão… um pedacinho de pano da batina do Beato Cura d’Ars” (Scritti 92, 17). Escrevendo a um sacerdote doente recomendou-lhe: “Procura um bom médico e vai fazer uma consulta e depois começa uma novena a São João Bosco e ao Santo Cura d’Ars” (Scritti 43, 212).

Mais ainda. Entre a espiritualidade de São João Maria Vianney e a de Dom Orione há muita afinidade.

O Pe. Venturelli qualifica a fé que havia em Dom Orione como “extremamente simples, fé que ia ao cerne… semelhante, à do Santo Cura d’Ars” (Positio super virtutibus, p.987). E também o Pe. Giuseppe Del Corno testemunhou: “Fazia-me grande impressão o espírito e o estilo das cartas que Dom Orione mandava da América. Nelas eu sempre notava algo do espírito e do estilo do Santo Cura d’Ars” (Ibidem, p.104).

Nosso Santo fundador assemelhou-se as Cura d’Ars sobretudo na paixão pelas Almas e na misericórdia para com os pecadores. Dom Orione desejava “abraçar a todos, exceto ao diabo e, se possível fosse, também a ele; abraçar a todos, menos ao erro manifesto; os transviados não só acolhê-los, mas correr atrás deles” (Scritti 81, 122). Movido pelo ímpeto da caridade chegou ao ponto de escrever: “Almas! Almas! Todas são amadas por Cristo, por todas Cristo deu a vida, todas Cristo quer salvas, entre seus braços e seu coração transpassado. Põe-me, Senhor, na boca do inferno, para que eu, pela tua misericórdia, o feche!”.[36]

Expressões hiperbólicas para impressionar leitores ou ouvintes? Também São Paulo, usou palavras bem semelhantes quando disse: “Quisera verdadeiramente ser eu próprio anatematizado, separado de Cristo em favor de meus irmãos” (Rm 9,1-3). Nessa linha de ardor apostólico se movia igualmente o amável santo Cura d’Ars que gostaria de colocar seu confessionário na porta do inferno. “Se os infelizes condenados que estão no Inferno há tanto tempo ouvissem dizer: ‘Vai ser colocado um padre na entrada do inferno e todos que quiserem se confessar não precisam fazer mais nada, senão, irem-se embora; filhos meus, achais que sobraria alguém lá? Oh! num piscar dos olhos o inferno estaria vazio e o céu se encheria!”.[37]

Ajudem-nos os exemplos do Cura d’Ars a vitalizar este ano sacerdotal e cresça o nosso zelo pelas Almas e a caridade pastoral, nutrida pela experiência da caridade de Deus. Como Bento XVI observou, “O Cura d’Ars, em seu tempo, soube transformar o coração e a vida de tantas pessoas, porque foi capaz de fazê-las perceber o amor misericordioso do Senhor. Urge em nosso tempo fazer ecoar essa boa nova pelo testemunho da verdade do Amor: Deus caritas est (1 Jo 4,8)”.[38]

Fazer experimentar a verdade do Amor de Deus – Dom Orione diria “mediante as obras de caridade fazer experimentar a Providência de Deus” – é o dinamismo gerador da identidade do orionita sacerdote e de toda outra vocação orionita.

* * *

Concluo, caríssimos Confrades, com o convite a olhar para a frente e a viver o evento importante do próximo Capítulo Geral em espírito de fé e di comunhão. Os últimos quatro meses do ano foram caracterizados pela realização dos Capítulos nas Comunidades e nas Províncias da Congregação. Com o “caderno de preparação ao Capítulo” na mão e com as anotações pessoais, demos nossas contribuições ao tema geral do Capítulo “Só a caridade salvará o mundo. Fontes, relações, ministérios, vocações e novas fronteiras da caridade apostólica”. Fui informado de interessantes experiências, tanto das comunidades locais como dos Capítulos provinciais. Agora a documentação está chegando à Direção Geral e uma Comissão pré-capitular (01 a 10 de março) cuidará da preparar o Instrumentum laboris para o Capítulo Geral (30 de maio a 23 de junho). A boa participação dos Confrades è premissa de bons frutos.

Pelo fim de janeiro, juntamente com o Superior da Delegação Missionária de Língua inglesa, o Pe. Malcolm Dyer, irei à Coreia do Sul e lá, se Deus quiser, iniciaremos oficialmente a presença da Congregação com a assinatura do convênio com o Bispo de Masan que nos confiará o atendimento pastoral de um centro para imigrantes. Era a única nova abertura programada para o sexênio e estamos chegando exatamente no final. Prosseguiremos depois em visita às Filipinas onde receberei a Profissão perpétua do primeiro nosso clérigo filipino, Richard Maguad, e daremos um passo à frente para a abertura de uma terceira comunidade na diocese de Lucena.

Recomendo orações pelos caríssimos confrades que nos deixaram nestes últimos meses: Pe. Francisco Lucian, Pe. Jan Kawalko, Pe. Dante Barbaro, Pe. Luigi Candoni, Pe. José Francisco Ciccioli, Pe. Antônio Aparecido Da Silva e Pe. Secondo Ugo Vighi, dos quais se encontram maiores notícias no “Necrológio” dos Atti.

Unamos em nossos sufrágios as nossas Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade: Irmã Maria Elda, Irmã Maria Plautilla, Irmã Maria Luce, Irmã Maria Liliana, Irmã Maria Anna, Irmã Maria Sarina e Irmã Maria Kamila.

Um pensamento também pelos nossos parentes falecidos: o pai do Cl. Valery Brice Ramandrosomanana e do Pe. Getúlio Pereira Da Silva; a mãe do Pe. José Antonio Sanz del Hoyo, do Pe. Juan José Mettini, do Pe. Arcangelo Campagna; os irmãos do Pe. José Gilvan e do Cl. José Márcio Nascimento Silva; o Pe. Nivaldo Antonino, irmão do nosso Pe. Geraldo Dias; a irmã do Pe. Amedeo Mangino, do Pe. Settimo De Martin, do Pe. Joseph Van Cu N’Guyen, do Pe. Damiano Terenghi, do Pe. Stanis?aw Pawlina e a Irmã Emiliana, irmã de nossos confrades o Pe. Pietro e o Pe. Belisario Lazzarin.

Confiamos à divina misericórdia todos os nossos Amigos, Benfeitores, Ex-Alunos falecidos que contribuíram para o bem da Pequena Obra, entre os quais cito, por ter recebido notícia, Orazio Tonelli (Genova), Victor Signorio (Chile), Pedro Vianna (Brasil sul), José Batistella (Guararapes) e Nazzareno Malfatti, que foi nosso confrade e missionário(Chipre). A todos o Senhor lhes dê o seu eterno Amor.

Um pensamento e uma oração especial também por todos nossos enfermos: Deus lhes conceda a graça de aceitar e oferecer a Jesus seus momentos de dor, em espírito de apostolado.

A todos vá a minha cordial saudação acompanhada pela oração.

Em Cristo e em Dom Orione

Sac. Flavio PELOSO, PODP

(superior geral)

 


[1] Circolare A única coisa necessária, “Atti e comunicazioni della Curia generale” 2007, n.224, p.187-209.

[2] Cfr Carta de instituição do Ano sacerdotal, do dia 16 de junho de 2009.

[3] Segundo o Annuarium statisticum da Igreja de 2007, os sacerdotes no mundo eram 408.024; destes 272.431 diocesanos (aumento de 2,5% com respeito ao ano 2000) e 135.593 religiosos (diminuição de 2,7%). Duas observações: 1) um terço dos sacerdotes do mundo são religiosos, a sua presença é consistente e significativa; 2) não é verdade que os sacerdotes diocesanos estejam em diminuição em respeito aos religiosos, porém está aumentando a necessidade e o número dos religiosos nas paróquias.

[4] Para evitar tal risco a Norma 108 prescreve aos sacerdotes dedicados a obras que “tenham também a possibilidade de exercitar o ministério pastoral”.

[5] Nas reuniões dedicadas à vida religiosa em geral ou também de nossa Congregação, observa-se que a crise da vocação do religioso irmão se deve à crise do religioso sacerdote que se identifica sempre mais com o ministério sacerdotal, deixando pouco espaço para a vida religiosa sua e dos “religiosos irmãos”. Nesta carta não tratarei dos religiosos irmãos, mas vai se tornar claro quanto seja importante para eles que os confrades sacerdotes vivam “como religiosos”.

[6] Cfr A. Montan in CISM, Il religioso presbitero nella Chiesa oggi, Il Calamo, Roma, 2005, p.8. O tema é em si mesmo complexo pois, como observa S. Dianich, “a figura do padre religioso se define por duas conotações não homólogas, em quanto ser padre diz respeito a um ministério que pode ser exercido em diversos estados de vida, ao passo que ser religioso se refere a um estado de vida no qual podem ser exercitados diversos ministérios”; Ministeri e ministero ordinato nella vita dei religiosi, in “Homo vivens” 11 (2000), p.380.

[7] Paolo VI evidenciou a “especial configuração do Religioso Sacerdote com Cristo Sacerdote” e a “conexão especial entre as duas consagrações”; Discurso aos Superiores Maiores do dia 18/11/1966. João Paulo II, na audiência geral do dia 15/02/1995, falou explicitamente do religioso sacerdote, com o substantivo “religioso” antes do sacerdote. Vita Consecrata 30 toca o tema e afirma que “a vocação ao sacerdócio e à vida consagrada convergem em profunda e dinâmica unidade”. Interessantes são as disposições da Instrução Potissimum institutioni sobre a formação nos Institutos religiosos (1990) a respeito da “especificidade religiosa dos religiosos sacerdotes e diáconos” (n.108) e “ o lugar dos religiosos sacerdotes no meio do clero diocesano” (n.109).

[8] Como observa Mons. Velasio De Paolis, perito canonista e atual Presidente da Prefeitura para os Assuntos Econômicos da Santa Sé, o Código si move em dois planos distintos: o dos clérigos, deixando praticamente de lado os religiosos, e o dos religiosos, como que prescindindo dos clérigos, e cala sobre a distinção de presbítero em quanto diocesano e de presbítero em quanto religioso; O presbítero religioso e o presbítero secular hoje in O religioso presbítero na Igreja hoje, cit., p.121-152.

[9] Não me resulta que haja dados sobre o número de religiosos sacerdotes inseridos no ministério paroquial. Nossa Congregação tem a responsabilidade de 120 paróquias, contando com um total de 668 religiosos sacerdotes, incluindo os idosos e enfermos. A decisão 4 do 12° Capítulo geral reconheceu que “cresce o número de religiosos que estão inseridos nesta pastoral” e portanto decidiu “formular com urgência o projeto orionita de pastoral paroquial, cuidando da formação específica orionita dos párocos e dos colaboradores, tornando-os conscientes de que são parte de uma comunidade religiosa”.

[10] Rossano Zas Friz De Col, A condição atual do presbítero religioso na Igreja, in “Rassegna di Teologia” 45 (2004) 35-71 e A identidade eclesial do presbítero religioso. O caso dos Jesuítas, “Revista de Teologia” 45 (2004) 325-360; O religioso presbítero na Igreja hoje, cit., que recolhe as atas de um seminário de estudo promovido em Roma pelos Superiores Maiores e que examinou o tema sob o ângulo de diversas perspectivas, histórica, teológica, jurídica, espiritual.

[11] Sempre houve um exercício pluriforme do ministério sacerdotal; a forma secular-diocesana de exercitar o ministério sacerdotal é uma delas. O problema é existencial mais do que teológico. “O religioso sacerdote tem por trás de si ha uma tradição que o colocou a exercer o seu ministério, em autonomia do bispo, in sentido transversal às igrejas locais e em estreita dependência do ministério papal”; S. Dianich, Ministérios e ministério ordenado na vida dos religiosos, cit., p.393.

[12] Ignazio Terzi, Espiritualidade de Dom Orione, “Revista de Ascética e Mística”, 23(1972), 205-213; Giuseppe Laurendi, Aspectos da espiritualidade sacerdotal do Beato Luís Orione, “Messaggi di Don Orione” 48 (1981); Marian Klis, O Orionita – Filius Ecclesiae, “Messaggi di Don Orione” 101 (2000), p.57-65; Vincenzo Alesiani, “Ele teve a têmpera e o coração do apóstolo Paulo”, “Messaggi di Don Orione” 109 (2002), p.5-43; Luigi Fiordaliso, As virtudes sacerdotais de Dom Orione, “Messaggi di Don Orione” 111 (2003), p.5-18; Flavio Peloso, Dom Orione: que tipo de padre?, “Messaggi di Don Orione” 115 (2004), p.57-72.

[13] É esta uma formulação sintética, dita e escrita por Dom Orione com inumeráveis variantes literárias, sempre, porém, constante na essência do conteúdo. Veja-se o Capítulo I das Constituições dos FDP do dia 22/07/1936, hoje no art.5, e o das PIMC (12.9.1935), hoje no art.3, escritos com tanto cuidado por Dom Orione no momento de apresentar à Igreja o seu carisma.

[14] Usando expressões da linguagem em voga naquele tempo, Dom Orione estimula seus clérigos: “Agora introduziram na Itália o passo romano; e nós com que passo vamos marchar? Compreendam todos que nós marcharemos com um passo apostólico! Não basta só o passo cristão, mas com passo apostólico! E quem não vibra pela caridade, quem não tem a força da chama apostólica não fique conosco. Seja talvez um bom trapista! Mas quem quiser ficar conosco tem que ser um campeão da caridade”; Discurso do dia 02/01/1938, Parola VIII, 6.

[15] Cfr Uma espiritualidade das mangas arregaçadas. Unificação interior de ação e contemplação no beato Dom Luís Orione, “Messaggi di Don Orione” 77 (1991) cf. Também Pedagogia da Santidade in “Atti e comunicazioni della Curia generale”, 2008, n.225, p.3-16.

[16] A confirmação está também no fato que na definição de carisma, data por Dom Orione e depois transcrita nas Constituições, está totalmente ausente a referência ao sacerdócio. Os sacerdotes aparecem como uma das formas de vida, juntamente a outras, nas quais pode ser vivido o mesmo carisma; cfr Const 54.

[17]O povo nos quer bem porque trabalhamos, porque o que nós pregamos, graças a Deus, fazemos. Não acreditam facilmente nos padres que andam a procurar as paróquias ricas e se limitam a fazer funerais. Seria inútil fundar uma nova Congregação, se ela não trouxesse uma nova onda de bondade na Igreja!”; Discurso aos clérigos no di 27/12/1933, Parola Vb, 232.

[18] A Norma 92 diz que “os Superiores… facultem (aos sacerdotes) a possibilidade de obter títulos, também em matérias técnicas e práticas, tendo presentes as exigências de nossas obras”.

[19] Tal orientação carismática foi critério e praxe: “Onde houver uma obra de culto, devemos ajuntar uma obra de caridade”; Parola 3, 148). É nossa praxe criar sempre ao lado da obra de culto uma obra de caridade”; Scritti 53, 39. Cfr Riunioni, p. 81; Scritti 62, 55; 100, 195. Tenho certeza que se a nossa Congregação sentiu menos que outras a crise do religioso sacerdote e da paroquialização da vida religiosa, isso se deveu a essa sábia norma e tradição de unir obras e religiosos dedicados ao ministério paroquial e obras e religiosos dedicados ao ministério da caridade. E’ uma linha retomada com insistência em todos os últimos Capítulos.

[20] Palavras escritas ao amigo Don Casa; Lettere I, 121-195..

[21] É costume ouvir expressões do tipo “o sacerdote è sacerdote, diocesano, franciscano, salesiano ou orionita, ou o quê mais”; “o pároco deve ser pároco e basta”; “estou na paróquia e faço o que devo fazer na paróquia; os outros que façam o que é dever deles”, coisas assim se dizem para justificar per falhas quanto ao dever de construir a síntese na própria identidade religioso-sacerdotal.

[22] Ignazio Terzi, A nossa fisionomia na Igreja. Para um comentário às Constituições, Tortona 1984, p. 21-25.

[23] Esse primado mostra sua evidência no itinerário formativo que prevê antes a inserção na vida religiosa e depois a recepção do ministério. Mesmo juridicamente, ocorre ser membros professos perpétuos da Congregação para poder ter acesso à ordenação que confere o munus/ministério sacerdotal.

[24]Fique, pois, bem determinado que esta Pequena Obra, confiada unicamente à infinita bondade e à ajuda da Divina Providência, querendo se conformar, da maneira mais perfeitamente possível, ao exemplo deixado pelo Filho de Deus, é para os pobres, nos quais vê e serve a Nosso Senhor Jesus Cristo, e quer ser fundada na humildade”. Assim está escrito no importante texto carismático-jurídico do Capítulo I das nossas Constituições do dia 22/07/1936 enviado ao abade Caronti, visitador apostólico; Scritti 59, 21; cfr A. Lanza, As Constituições da Pequena Obra da Divina Providência, Messaggi di Don Orione n.76, 1991.

[25] É a Igreja que nos quer como devemos ser, orionitas, nós e as nossas paróquias, orionitas as nossas escolas, orionitas as nossas obras de caridade, orionitas os nossos lares e os nossos jovens! Orionitas! É para isso que existimos. O carisma é a razão e a modalidade pela qual existe a própria Congregação. “É vantajoso para a mesma Igreja que os Institutos una sua particular fisionomia e uma sua particular função ”(Perfectae caritatis 2). “A comunhão na Igreja não é, de fato, uniformidade, mas dom do Espírito que passa através da variedade dos carismas e dos estados de vida. Eles serão tanto mais úteis à Igreja à sua missão, quanto maior for o seu respeito pela própria identidade” (Vita consacrata 4).

[26] Cfr acima na nota precedente. O convite à fidelidade e à própria identidade, como dom à Igreja foi destacado e valorizado pelo Papa João Paulo II: “Posto que «resulta em vantagem para a Igreja que os Institutos conservem sua própria fisionomia e a sua própria função» (Perfectae caritatis 2) eu vos animo, irfmãs e irmãos caríssimos, a prosseguir nessa estrada, resistindo a toda tentação de conformismo…”; Carta no 50° da morte de Dom Orione, «L’Osservatore Romano», 12-13 de março de 1990, p. 4.

[27] É um tema controvertido e uma Comissão da Santa Sé foi instituída para buscar uma solução; cf. Vita consacrata 60 e 61. Por agora, o acesso de religiosos irmãos ao serviço de superior é autorizado como exceção pessoal desde que bem motivada. Nos últimos anos, na Congregação tivemos vários irmãos “vigários” de comunidades e um também “superior”.

[28] Um pároco e uma paróquia orionita têm também por finalidade a mesma e única obra determinada (finalidade) como todas as obras (meios) da Congregação. Ver a Circular Que tipo de amor ao Papa? In Atti e comunicazioni 2005, n.216, p.3-15.

[29] Costumamos resumir as muitas obras e atividades orionitas em três diretrizes da caridade educativo-juvenil, caridade assistencial-promocional e caridade pastoral-paroquial. Ver a Circular Quais obras di caridade? In “Atti e comunicazioni” 2005, n.217, p.111-130.

[30] Recorda isso o art.117 das Constituições: “Numa Igreja toda voltada para a missão, nós como portadores de um concreto carisma, nos reconhecemos chamados a uma específica missão apostólica”.

[31] Para conhecer a Igreja no tempo de Dom Orione, vejam-se os estudos históricos: Ignazio Terzi, Il momento storico in cui operò, 29-36; Id., Il messaggio di Don Orione nella sua genesi storica , 147-155; Andrea Gemma, La chiesa locale nella concezione teologica e pastorale del periodo in cui si formò Don Orione, 37-53; Giovanni Pirani, Don Orione e la sua diocesi, 54-73, todos em Don Orione nel centenario della nascita (1872-1972), Roma-Tortona, 1975; Aa.Vv. La figura e l’opera di Don Luigi Orione(1872 – 1940), Vita e Pensiero, Milano 1994; Aa.Vv., Don Orione e il Novecento, Rubbettino, Soveria Mannelli, 2003; Aa. Vv. San Luigi Orione.Da Tortona al mondo, Ed. Vita e Pensiero, Milano 2004.

[32] Hoje, inclusive por motivo da grave crise de vocações e de insuficiência de clero, há um forte movimento de volta para a sacristia e para dentro da igreja, para dar catecismo, distribuir sacramentos, dirigir os que já vêm à igreja. Verifica-se um novo tipo de concentração institucional. E acontece que nesse recuo para dentro da igreja e da sacristia (e para dentro dos escritórios) ficamos envolvidos também nós religiosos, a quem são confiados diretamente – ou como suplência – cada vez mais os ofícios próprios do clero diocesano ou porque na gestão das obras de caridade nos ocupamos preferentemente com funções e cargos administrativos. Daí deriva a consequência que, sendo poucos e estando todos já super ocupados, não possamos dirigir adequadamente as obras típicas do carisma e nem pelo menos tomar em consideração as “obras de fronteira”, as “novas respostas”, as “Patagônias” dos carentes de tudo e dos desprovidos. E, no entanto, é para isso que nós existimos… porque “é de vantagem para a própria Igreja que os Institutos tenham uma sua própria fisionomia e uma particular função”; ver acima as notas 26 e 27.

[33] Ver acima a nota 15 e em particular o meu artigo Dom Orione: que tipo de padre?, Messaggi di Don Orione 115 (2004), p.57-72.

[34] Carta do dia 11/02/1903 ao bispo Dom Bandi para a aprovação da Congregação; Lettere I, 11-22.

[35] Scritti 33, 47. Bento XVI recorda ainda como o Santo Cura exercitava os ministérios da caridade, “visitava sistematicamente os enfermos e as famílias; organizava missões populares e festas patronais; recolhia e administrava o dinheiro para as suas obras de caritativas e missionárias; embbelezava a sua igreja e a dotava de adornos sagrados; ocupava-se das me ninas órfãs da “Providence” (um instituto por ele fundado) e das educadoras elas; preocupava-se co a instrução das crianças; criou confrarias e convocava os leigos para colaborar com ele”; Carta da instituição do Ano Sacerdotal, cit.

[36] Nel nome della Divina Provvidenza, 136.

[37] Pensieri e fioretti del Santo Curato d’Ars, Ed. San Paolo, 1999.

[38] Carta de instituição do Ano Sacerdotal, cit.

Roma, 2 de Outubro de 2010

Festa dos Santos Anjos da Guarda

 

Caríssimos Confrades,

Deo gratias!

Temos em mãos o documento do 13° Capítulo Geral que teve como tema “Somente a caridade salvará o mundo. Fontes, relações, ministérios, vocações e novas fronteiras da caridade apostólica”. Depois do comum envolvimento da Congregação na fase preparatória, a fase conclusiva se realizou em Ariccia (Roma), do dia 30 de maio ao dia 23 de junho de 2010.

 

ENSOPADOS DE CARIDADE

PARA FAZER PROVAR O AMOR PROVIDENTE DE DEUS

 

Tomo as palavras do discurso do Papa Bento XVI no Centro Dom Orione de Monte Mario – a datação de Roma, o título desta Circular de apresentação do Documento do 13º Capítulo Geral e a proposta da Caminhada do período de seis anos que estamos a iniciar. Parece-me que essas palavras e tudo isso exprime felizmente a dimensão mística e apostólica da caridade que é a vida da nossa Vida religiosa.

“Somente a caridade salvará o mundo”: do tema ao projeto

O fogo da caridade de Deus que inflamou Dom Orione é a nossa herança mais preciosa. “Seja o nosso espírito um espírito grande de humildade, de fé, de caridade: seja a nossa vida toda tecida de oração, de piedade operosa, de sacrifício para fazer o bem às almas. Somente com a caridade de Jesus Cristo se salvará o mundo! Devemos encher de caridade os sulcos que dividem os homens repletos de ódio e de egoísmo. Reine entre vós, ó meus caros filhos, a grande, suavíssima e sobrenatural caridade que sempre fez de todos vós como que um só coração e uma só alma ” (Lettere I, 282).

Com o 13° Capítulo geral, propusemo-nos ajudar-nos uns aos outros a reavivar em nós e em todas as nossas atividades o fogo e o espírito orionita, confrontando-nos com o célebre dito do nosso Pai fundador “Somente a caridade salvará o mundo”.

Assumimos a CARIDADE como fonte e dinâmica de vitalidade espiritual, comunitária e apostólica. É “a caridade a única que vivifica, edifica e unifica em Jesus Cristo e na Igreja” (Scritti 59,215; 61,153). Assim pois, é na caridade que está em jogo a nossa santidade e o nosso apostolado, a felicidade pessoal e o futuro da Congregação.

A revisão/projeto de vida do Capítulo considerou cinco núcleos temáticos: 1) as fontes da caridade, 2) as relações comunitárias, 3) os ministérios da caridade, 4) a caridade das vocações, 5) as novas fronteiras da caridade. Cada núcleo temático foi por sua vez subdividido em 3 pontos particulares criando um total de 15 temas.

A Congregação se confrontou sobre cada um desses 15 temas com o estilo e o método do discernimento comunitário, individualizando o chamado de Deus, a situação nossa, as linhas de ação. O documento que temos agora em mãos é o fruto amadurecido dessas reflexões.

O 13° Capítulo Geral

A assembléia final do Capítulo Geral se iniciou no dia 30 de maio com uma breve peregrinação às fontes do carisma, isto é, aos lugares do Fundador e de alguns Fundadores ligados a Dom Orione.

Peregrinos a Tortona, ao santuário de Nossa Senhora da Guarda e junto ao Corpo de São Luís Orione, compartilhamos desde o início do slogan “Somente a caridade salvará o mundo” que indica a experiência carismática das origens e o testemunho de tantos confrades de ontem e de hoje.

No dia seguinte, acompanhados idealmente por Dom Orione, fomos encontrar Dom Bosco, em Valdocco, tornando a ouvir da voz de seu sucessor, o reitor-mor Pascual Chavez Villanueva, o slogan do Santo dos jovens: “Da mihi animas; cetera tolle”.[1]

Pouco mais adiante, ainda em Valdocco, fomos bater à porta do Cottolengo e vimos estampado sobre as paredes e no semblante das pessoas o slogan “Caritas Christi urget nos”,[2] que tantos santos formou e tantas misérias aliviou.

Sabendo que Dom Orione, continuando em Turim, atingiu o fogo também do beato Giuseppe Allamano, fizemo-nos levar à casa-mãe dos Missionários da Consolata e lá ouvimos o atual superior geral, Pe. Aquiléo Fiorentini, nos dizer que “A caridade é a substância da missão”.

Esses lugares, esses santos, essas congregações, deixaram nos Capitulares um fervoroso clima de espiritualidade que, certamente, contribuiu para o bom trabalho do Capítulo. Com o Instrumentum laboris sempre em mãos, os Padres capitulares transformaram as indicações vindas dos Capítulos provinciais e das comunidades em linhas de ação e em decisões.

O tema “Somente a caridade salvará o mundo” nos animou a sermos “Dom Orione hoje”, em nosso mundo. E nos convidou a nos tornarmos entusiastas de seu projeto de santidade, testemunhas felizes e acreditados do espírito orionita, enamorados de Deus e dedicados aos irmãos mais necessitados, convictos que “A causa de Deus e da sua Igreja não se serve senão com uma grande caridade de vida e de obras” (Lettere I, 181). Ela é a fonte não somente do carisma orionita, mas da nossa vida consagrada e de nossa missão.

As palavras de Bento XVI

Na conclusão e bênção do Capítulo, ocorreu o encontro com o Papa Bento XVI em visita ao Centro Dom Orione de Roma, no dia 24 de junho. Depois de ter falado da significação histórica e religiosa da estátua da “Madonnina” do Monte Mário, o Papa dedicou metade de seu Discurso ao “Capítulo Geral recém-concluído”.[3] Depois de ter recordado que “Dom Orione viveu de modo lúcido e apaixonado a missão da Igreja de viver o amor para fazer entrar no mundo a luz de Deus (cf. Deus Caritas est, n. 39)…, sabendo que a caridade abre os olhos à fé e aquece os corações no amor para com Deus”, Bento XVI exortou: “continuai, caros Filhos da Divina Providência, nessa trilha carismática por ele iniciada”.

O Papa estava informado a respeito dos temas de nosso Capítulo. Dirigiu-nos palavras simples e maravilhosas que podemos colocar como objetivos do próximo sexênio: “As obras de caridade, como atos pessoais e como serviços às pessoas debilitadas, oferecidas nas grandes instituições, não podem jamais reduzir-se a gestos filantrópicos, mas devem permanecer sempre como expressões tangíveis do amor providente de Deus. Para fazer isso – recorda Dom Orione – ocorre estar embebidos pela caridade suavíssima de Nosso Senhor’ (Scritti 70, 231) mediante uma vida espiritual autêntica e santa”.

Do discernimento ao documento

O Capítulo elaborou o texto que constituirá o nosso vademecum espiritual e operativo durante os próximos seis anos, de 2010 a 2016. Por uma parte, sabemos que é fruto da nossa experiência e partilha em decifrar e interpretar os sinais dos tempos. Por outra parte, o documento é uma precisa expressão da vontade de Deus a respeito da nossa próxima caminhada de religiosos.

Cada um dos15 pontos do tema geral “Somente a caridade salvará o mundo” está articulado numa sequência inseparável.

  1. Que deseja Deus de nós. Com o olhar voltado para Deus, para a Igreja e para Dom Orione, depois do esforço de discernimento, aqui é percebido o que Deus quer de nós hoje.
  2. A nossa situação. Breves acenos apresentam a visão do contexto em que vivemos, nos aspectos positivos e nos aspectos problemáticos, conscientes que Deus nos fala através da história.
  3. Que devemos fazer. São as disposições práticas a serem atuadas.
  4. As linhas de ação indicam uma perspectiva e uma ação a ser realizada no tempo e em várias modalidades para propiciar a renovação na mentalidade e nas estruturas. As linhas de ação são no total 41, numeradas progressivamente, elas indicam as prioridades que a Congregação se dispõe a enfrentar nos diversos âmbitos da sua vida.
  5. As decisões são ligadas às linhas de ação e pedem ações pontuais e precisas no tempo e nos modos. São 35, numeradas progressivamente. Elas dizem respeito a assuntos diversos (cada religioso, a comunidade, a província, o governo geral) e a contextos variados (formação, missão, apostolado, administração, etc.).

O documento está articulado, mas, na realidade, pode ser resumido em cinco grandes linhas de crescimento, cada uma delas pressupõe e reforça as outras:

1) assegurar o acesso às fontes da caridade em que se possa atingir vitalmente,

2) realizar melhor as relações comunitárias que alimentam e dão sustento à caridade,

3) viver as atividades apostólicas como ministérios da caridade no contexto atual,

4) exprimir a fecundidade da caridade nas vocações,

5) impelir-nos, hoje, em direção às novas fronteiras da caridade.

Na parte final do documento acham-se recolhidas as outras decisões referentes a temas de particular interesse. Somente algumas delas têm ligação com o tema central do sexênio, ao passo que as outras se referem ao governo, à administração e à revisão de alguns pontos das Constituições e das Normas.

A publicação do Documento do XIII Capítulo geral torna oficiais as orientações decididas no Capítulo e marca o ponto de partida do sexênio 2010-2016.

Do documento à caminhada

Não são todos que devem fazer tudo, mas a pessoas várias (de cada religioso,[4] comunidade,[5] província,[6] governo geral,[7] secretariados, etc.) se requer uma ação determinada. Cada um é chamado a fazer a própria parte, porque somente com a contribuição de todos, as linhas de ação e as decisões poderão ser concretizadas no seu todo.

O próprio papel do novo Conselho geral, eleito durante o Capítulo, deve ser visto na perspectiva de animação e de guia da comum caminhada.[8]

Avante, pois, e em frente!

Convido à confiança na atuação das disposições do Capítulo, pois tudo leva a crer que elas sejam concretas (elas vêm do discernimento de vida feito nas comunidades, e não são fruto de idéias brotadas num gabinete), necessárias (como tais foram indicadas por muitos confrades e comunidades), possíveis de realização (sobre isso velou e zelou o Capítulo geral).

O documento do 13º Capítulo geral que temos em mãos é um instrumento de renovação e de fidelidade a Dom Orione e, através dele, a Deus, à Igreja e aos pobres aos quais somos enviados.

Olhando à frente, encorajam-nos os nossos santos de família e todos os confrades, irmãs e leigos que com sua fidelidade à vocação testemunharam a beleza do nosso projeto de vida, a fecundidade do espírito orionita e a força espiritual do “Somente a caridade salvará o mundo”. Estamos num caminho bom e santo.

Ao mesmo tempo, alguns próximos aniversários importantes nos ajudarão a fazer memória e a renovar a nossa história carismática. Recordo alguns principais e comuns: o centenário da partida dos primeiros missionários para o Brasil, em 2013[9]; os 50 anos da morte de Frei Ave Maria, em 2014[10]; os 75 anos da morte – dies natalis de Dom Orione, em 2015[11]; o centenário da Fundação das Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade, também em 2015[12]. Serão ocasiões para “reavivar o dom que está em nós” (cf. 2Tm 1,6) e para viver a nossa vocação com paixão e capacidade profética.

Temos diante de nós um tempo favorável para avançar nos passos de Dom Orione com ele e como ele apaixonados por Deus, pela Igreja e pelos pobres. Não percamos tempo, não nos distraiamos, estejamos atentos e obedientes à Vontade de Deus para estarmos “certos de correr pelos caminhos da Divina Providência”, confiando na ajuda materna de Maria, nossa Mãe e nossa celeste Fundadora.

Entusiasmados todos,como filhos

A caminhada promovida pelo Capítulo Geral provém da contribuição de todos e é para todos. Entusiasmados todos e empenhados, quanto mais nos for possível.

Como dedicamos atenção ao estudo e à preparação do Capítulo Geral, da mesma forma, e mais ainda, se exige agora de nós o compromisso de, como filhos, nos empenharmos na concreta realização de tudo que o Capítulo nos confiou com autoridade.

Ainda em referência à atuação do Capítulo, cabe-nos continuar a praticar o mesmo método do discernimento comunitário que nos guiou durante sua preparação.

A realização das decisões capitulares, para ser eficaz, deverá ser orgânica e continuada durante todos os próximos seis anos. Nós o faremos seguindo a dinâmica de caminhada indicada por nossas Constituições e consolidada pela tradição da Congregação.

Como governo geral, já esboçamos a programação para o sexênio, prevendo uma ação abrangente e diversificada, distribuída no calendário do sexênio. Haverá encontros com os conselheiros provinciais para assumirmos o programa do Capítulo e, com base nele, orientar o governo da província.

As assembléias provinciais de programação têm o compromisso de interpretar e programar na realidade de cada nação tudo quanto foi decidido pelo 13º Capítulo Geral.

Em seguida, em 2013, ocorrerão as assembléias provinciais e a geral de verificação (avaliação) para fazer o balanço e o relançamento da caminhada do sexênio.

Durante os seis anos, as reuniões anuais dos diretores retomarão as decisões do Capítulo, refletindo e atuando quanto se refere às comunidades e obras.

Da mesma forma a visita canônica provincial e a geral, serão momentos fortes para assumir a visão e promover as linhas de mudança requeridas pelo Capítulo.

A ação dos secretariados terá por escopo animar e realizar as indicações do Capítulo referentes ao próprio setor. Os encontros internacionais assinalarão as etapas da caminhada comum da Congregação.

Certamente os Cadernos anuais de formação permanente se concentrarão sobre as orientações do Capítulo.

Além destas principais dinâmicas da Congregação, há tantos outros recursos e iniciativas a serem aproveitadas para apoiar a caminhada de renovação: penso, por exemplo, os exercícios espirituais, leituras e circulares minhas e dos provinciais, os temas de formação dos leigos, festas de família, e tanta coisa mais.

Ave Maria e avante!

Como última palavra, deixo-vos a calorosa exortação de Dom Orione a seus Confrades, no mês de agosto de 1934, pouco antes de partir para a América Latina: “Fundadores sois vós, eu não sou senão um irmão maior chamado por primeiro em ordem de tempo, por divina misericórdia, mas sois vós que fazeis ir à frente as casas e que dais fisionomia à Congregação. Renovar-nos ou morrer!

É isso mesmo. È uma grande responsabilidade.

Dom Orione continua a ser o nosso “irmão maior”, presente e ativo lá nos céus. E nós devemos fazer a nossa parte.

Ave Maria e avante!

Olhando para a frente

Como disse acima, já esboçamos no Conselho o programa geral e fixamos algumas datas do Calendário. Neste primeiro ano, temos o objetivo de realizar encontros com as Províncias, em momentos de reuniões coletivas, de encontros dos Conselhos provinciais, de Diretores, de Assembleias de programação. Os Conselheiros estão iniciando os contatos para entrarem no ritmo das várias reuniões dos Secretariados provinciais e interprovinciais. Nestes primeiros meses, estamos programando nossa apresentação como Conselho nas várias Províncias: nos dias de 14-15 nos encontramos com os diretores das Províncias italianas, nos dias 19-21 de outubro nos encontraremos com os da Polônia, em janeiro com os da Espanha, em fevereiro com os da África, em março estaremos todos na América Latina.

Nos dias 4-6 de dezembro teremos o encontro dos Conselheiros Gerais, o nosso, o das PIMC, as quais, em maio próximo realizarão o seu Capítulo Geral, e os Responsáveis do ISO e do MLO.

Em cada Província, será preciso organizar com toda atenção a Assembleia de programação.

Enquanto estou escrevendo, acabo de receber a notícia que os nossos Servos de Deus, Padre Ricardo Gil Barcelón e o Postulante Antonio Arrué Peiró, tiveram aprovação no exame da Comissão Teológica “super martyrio”, e, sendo assim, nos próximos meses pode-se prever a conclusão do processo para a beatificação deles. A notícia é boa por si mesma, mas só a poderemos publicar depois da completa conclusão do processo. O que podemos fazer desde já é difundir sempre mais o conhecimento destes dois Servos de Deus. Agradeçamos ao Senhor. Um ou outro nosso Confrade, de tanto em tanto, é elevado sobre o candelabro, mas toda nossa Família se considere solidária no compromisso da santidade.

E termino como de costume, recomendando que rezeis por aqueles que de junho até o dia de hoje deixaram-nos e partiram, precedendo-nos no caminho feliz da casa do Pai. São eles os Confrades: Pe. Alfredo Enrico Riva e o Pe. Pasquale Ruggeri; as Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade: Irmã Maria Eliane, Irmã Maria Assunta, Irmã Maria Priscilla Di Berardo, Irmã Maria Pudenziana e a Irmã Maria Cleta; o papai do Pe. Aurelio Fusi, o do Pe. Dorian Mjeshtri, o do Pe, Baldomero Román Britez e o do Pe. Evaldo Pacheco Nunes; a mamãe do Pe. Lorenzo Benzi, a do Cl. Edvaldo Antunes, a do Pe. Paul Mboche Mwangi, a de Dom Enemésio Angelo Lazzaris e a do Frei Evaristo Rolón Portillo; o irmão do Pe. Mario Finati, o do Pe. Pietro Ferrini, o do Pe; Ezio Sonni, o do Pe. Raffaele Lion (já falecido), o do Pe. Giovanni e do Pe. Marco Grossholz e o do Pe. Wincenty Goralczyk; a irmã do Pe. Angelo Pellizzari.

Unamos em nossa recordação e em nossas preces também os Amigos, Benfeitores e leigos que na humildade e com discrição colaboraram concretamente para sustentar e manter as tendas da Pequena Obra da Divina Providência nas muitas partes do mundo, tornando-se participantes da obra de bem por elas realizada.

No Capítulo, recordamos com carinho os nossos confrades anciãos e enfermos, dedicando algumas decisões às pessoas e situações deles. Grande é a contribuição que eles prestaram nos seus anos de atividade e precioso é aquilo que podem continuar a nos oferecer agora; obrigação nossa é tudo quanto os confrades com boa saúde podemos dar-lhes, em auxílio de sua atual fragilidade. O Senhor os conforte e sustente neles viva a esperança e a serenidade nos incômodos e sofrimentos.

Quando sinto que devo fazer alguma coisa “no nome de Dom Orione”, sempre me parece ver aquele seu rosto sorridente; tento reproduzi-lo em mim e peço a graça de vê-lo estampado em todos que o seguem. Avante, caríssimos Confrades, prossigamos no bom caminho, difundamos a caridade e o bom odor de Cristo ao longo de nossos passos. Saúdo-vos todos in Domino.

Don Flavio Peloso, FDP

(superior geral)



[1] Dom Bosco explicou essa expressão a Domingos Savio, “ajudou-o a traduzir e a descobrir este sentido: Ó Senhor, dá-me almas, e podes tomar de mim tudo o mais” (MB V 126). Dom Orione cita muito frequentemente o brado de São Francisco de Sales e de Dom Bosco; depois o transformou no famoso “Almas e almas!”.

[2] O brado paulino (2 Cor 5, 14) era por Dom Orione muito citado em latim e traduzido com variados detalhes. É clássica a tradução por ele usada no Hino da caridade: “O amor de Cristo e dos irmãos nos anima, nos impele” (Lettere II, 328). Usa também outras palavras para exprimir a experiência do urget interior: “nos urge”,“nos arrasta”, nos obriga”, “nos pressiona”, “nos faz voar em socorro”. Note-se que muitas vezes ele qualifica a “caridade” como “a caridade de Cristo”, “a caridade de Deus”, “a caridade, o amor, isto é, amor de Deus e do próximo”.

[3] Veja-se o discurso completo de Bento XVI. No dia 24 de junho de 2010, o Papa veio ao Centro Dom Orione do Monte Mario, para a bênção da estátua de Maria “salus populi romani , salvação do povo romano”, alta 9 metros, recolocada depois da desastrosa queda acontecida no dia 12 de outubro de 2009. A Madonnina (a “Senhorinha”, como os romanos, carinhosamente, denominam a imagem – nota do tradutor) é um dos símbolos da fé e da história recente de Roma. Tendo o Capítulo geral terminado no dia precedente, os Padres capitulares estavam todos presentes e a eles dirigiu o Papa especiais palavras.

[4] Referem-se a cada Religioso as Linhas de ação 1 , 2, 4, 7, 18, 20, 28, 29, 30, 37, 41 e as Decisões: 1, 17, 23.

[5] Referem-se aos superiores e Comunidades locais as Linhas de ação 3, 5, 10, 12, 13, 14, 15, 16, 19, 21, 23, 24, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 35, 39, 40 e as Decisões: 2, 5, 7, 9, 12, 14, 16, 17, 24, 27, 28, 31, 32, 33, 34, 35.

[6] Referem -se ao superior, ao conselho e aos secretariados da Província as Linhas de ação 6, 8, 9, 11, 13, 14, 16, 19, 20, 21, 22, 23, 26, 30, 32, 33, 34, 35, 36, 38 e as Decisões: 3, 6, 8, 10, 11, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 25, 26, 28, 29, 30, 35.

[7] O Papel de animação do Superior e do Conselho geral exige atenção e presença dos mesmos quanto a todas as disposições do Capítulo, mas competem diretamente a eles as Linhas de ação: 16, 25, 33, e as Decisões 4, 21, 30 e quase todas as Outras decisões.

[8] Veja-se a carta do dia 26 de junho de 2010 com os encargos de cada conselheiro.

[9] Os primeiros três missionários partiram de Genova no dia 17 de dezembro de 1913; no dia 29 de dezembro chegaram ao porto de Santos e atingiram sua destinação final, Mar de Espanha, no dia 2 de janeiro de 1914.

[10] O Venerável Frei Ave Maria morreu no dia 21 de janeiro de 1964.

[11] Será data de particular relevo para esse evento que a Igreja chama “dies natalis”: o dia 12 de março de 1940, às 22.45: “Jesus, Jesus, Jesus… estou indo ”.

[12] A data da fundação é o dia 29 de junho, ligado à abertura da primeira casa em Ameno (Novara).