Deus é paciente para com seus filhos.

Publicado em 19/07/2014 | Categoria: Destaques Notícias |


por do sol

Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra do 16º Domingo do Tempo Comum – Ano A 

 

Era uma vez uma professora muito impaciente. Ditava o ritmo do ensino de tal forma, para que todos já apresentassem resultados imediatamente. Ai daquele estudante que não conseguisse segui-la. Seria logo taxado como incompetente e indigno de freqüentar sua classe. Imediatamente arrancado da sala. Um dos muitos alunos desprezados foi acolhido noutra escola onde teve tempo e espaço para demonstrar seus dons. Tornou-se célebre médico. Um dia essa mulher caiu doente. Consultara doutores até no exterior e ninguém foi capaz de lhe descobrir o mal.Contaram-lhe então que numa cidade próxima havia um médico muito sábio. Quem sabe ele poderia ter para ela o diagnóstico conclusivo que pudesse levá-la à cura? Lá se foi a enferma em busca desse doutor. Chegando ao consultório ficou intrigada com o nome lá exposto. Tentava puxar da memória de onde o conhecia. Terminados os exames estava radiante. Sua moléstia era enfim sabida e, melhor ainda, tinha remédios eficazes. Alegre, lhe perguntou se não tinha parentes na sua cidade, eis que seu nome e sobrenome lhe eram bem familiares. “Eu sou de lá e fui seu aluno por pouco tempo”. O médico, que já a havia reconhecido, respondeu. Foi assim que a professora caiu em conta de como seu comportamento não era adequado. A partir daquele dia mudou seu modo de proceder. Passou a ter paciência com os alunos e bastante prudência nos julgamentos que fazia deles. Sentia que todos, mesmo parecendo, a princípio, maus tinham talentos maravilhosos a serem cultivados e só depois de crescidos é que seria possível perceber tais capacidades ocultas.

 

O evangelista Mateus vem nos falar, através de parábolas, de características do Reino. Algumas mais famosas, como a do domingo passado e esta, vem tratar das coisas da agricultura. Numa linguagem bem simples e adequada à realidade daquela gente, Jesus quer alertar para o cuidado que é necessário se ter com a plantação, para que não se perca a colheita.

O primeiro e mais importante ensinamento desse trecho do Evangelho diz respeito à paciência. A parábola do joio e do trigo apresenta-nos uma face de Deus muito bonita e que costuma estar meio oculta para os cristãos, em alguns momentos da vida. Deus é tremendamente paciente com seus filhos e pode ser que eles se esqueçam disso.

Ele sempre está esperando que eles cresçam para que enfim possa saber se querem mesmo ser acolhidos no seu imenso Amor e misericórdia. Como o Pai somos também agricultores e o que Jesus quer nos mostrar é que nesse trabalho não se pode almejar resultados imediatos. Lavrador impaciente não alcançará boa colheita.

Nas comunidades é preciso que se cultive esse olhar divino da paciência. Dar tempo ao tempo, oferecer condições e espaço para as pessoas, para que possam ir adentrando, no seu ritmo, nos mistérios do Amor de Deus. Não é difícil percebermos como cobramos resultados rápidos das pessoas à nossa volta. Pior ainda, sempre queremos que caminhem no nosso ritmo. Até podemos desrespeitá-las ao exigir que caminhem numa velocidade para a qual não estão aptas.

Pode bem ser que em alguns lugares que frequentamos, não se estejam utilizando os critérios do Reino da paciência, cuidado e atenção. O tempo do Reino não é contado como o nosso. O crescimento se dá segundo o kairós, o tempo do Espírito, que não se conta em horas nem em dias. Pode bem ser que, contaminados pelo tempo de alta velocidade que se vive e por causa do modelo econômico vigente, se esteja cobrando das pessoas apenas o tempo chronos, esse dos relógios que se carrega nos pulsos.

Nas outras duas parábolas trazidas por Mateus nesse domingo vamos ter exemplos significativos do crescimento do Reino. A vida dura e certo tipo de catequese, em voga num passado nem tão distante, fez com que ficasse impregnado no inconsciente de bastante gente, o distanciamento do Reino de Deus da sua realidade concreta. Foi reforçando nelas a noção de que o Reino só poderá ser visto e assumido quando se estiver no céu. Jesus vem nos mostrar que essa visão está equivocada. O Reino tem início no aqui e agora.

Mais ainda, que não podemos esperar que ele aconteça sem o nosso trabalho. É preciso preparar o terreno para lançar ao chão as sementes de “mostarda”. Depois, cuidar delas para que cresçam. Da mesma forma, se não for preparado o pão não haverá comida. Duas parábolas que vem nos mostrar que o Reino já está no meio de nós e que nos cabe, com a atenção, cuidado e serviço, “retirar o véu” que pode estar cobrindo-o. O Reino está aí e cresce. Não de fora para dentro, mas de dentro para fora. Será a força já existente dentro da semente e a propriedade do fermento no meio do pão que farão com que cresçam .


Pistas para reflexão durante a semana:

 

– Sou agricultor paciente?

– Sinto o Reino presente na minha vida?

– Ajudo a minha comunidade a ter mais cuidado com o ritmo de cada um na construção do Reino?

 

1ª Leitura – Sb. 12,13. 16- 19

Não há, além de ti, outro Deus que cuide de todas as coisas e a quem devas mostrar que teu julgamento não foi injusto. A tua força é princípio da tua justiça, e o teu domínio sobre todos te faz para com todos indulgente. Mostras a tua força a quem não crê na perfeição do teu poder; e nos que te conhecem, castigas o seu atrevimento. No entanto, dominando tua própria força, julgas com clemência e nos governas com grande consideração: pois quando quiseres, está ao teu alcance fazer uso do teu poder. Assim procedendo, ensinaste ao teu povo que o justo deve ser humano; e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores.

 

2ª Leitura – Rm 8,26-27

Irmãos: Também, o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis. E aquele que penetra o íntimo dos corações sabe qual é a intenção do Espírito. Pois é sempre segundo Deus que o Espírito intercede em favor dos santos.

 

Evangelho – Mt 13,24-43

Naquele tempo: Jesus contou outra parábola à multidão: ‘O Reino dos Céus é como um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo, e foi embora. Quando o trigo cresceu e as espigas começaram a se formar, apareceu também o joio. Os empregados foram procurar o dono e lhe disseram: `Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?’ O dono respondeu: `Foi algum inimigo que fez isso’. Os empregados lhe perguntaram: `Queres que vamos arrancar o joio?’ O dono respondeu: Não! pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo. Deixai crescer um e outro até a colheita! E, no tempo da colheita, direi aos que cortam o trigo: arrancai primeiro o joio e o amarrai em feixes para ser queimado!

Recolhei, porém, o trigo no meu celeiro!” Jesus contou-lhes outra parábola: ‘O Reino dos Céus é como uma semente de mostarda que um homem pega e semeia no seu campo. Embora ela seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior do que as outras plantas. E torna-se uma árvore, de modo que os pássaros vêm e fazem ninhos em seus ramos.’ Jesus contou-lhes ainda uma outra parábola: ‘O Reino dos Céus é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado.’ Tudo isso Jesus falava em parábolas às multidões. Nada lhes falava sem usar parábolas, para se cumprir o que foi dito pelo profeta: Abrirei a boca para falar em parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo’. Então Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: ‘Explica-nos a parábola do joio!’ Jesus respondeu: Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifadores são os anjos. Como o joio é recolhido e queimado ao fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: o Filho do Homem enviará os seus anjos e eles retirarão do seu Reino todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal; e depois os lançarão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça.’

 

 

Fernando Cyrino

www.fernandocyrino.com



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