A Voz do Pastor – Dez/2018

Publicado em 01/12/2018 | Categoria: A Voz do Pastor Notícias |


 

O PRIMEIRO AMOR

 

Irmãos e irmãs, queridos de Deus:

Ainda não saiu o documento definitivo do Sínodo de Bispos sobre a juventude, mas algumas ideias já podem ser compartilhadas. E eu gostaria de apresentar a vocês um pouco dessa riqueza.

A presença dos jovens criou uma novidade total entre os bispos: “através deles a voz de toda uma geração ressoou no Sínodo. Caminhando com eles, sentimos que a proximidade cria as condições para que a Igreja seja um espaço de diálogo e testemunho de uma fraternidade que fascina. A força dessa experiência supera toda a fadiga e toda fraqueza. É o que Senhor continua repetindo para nós: Não tenha medo, eu estou com você.

O texto de Emaús (Lc 24,13-35) se tornou “paradigmático para compreender a missão eclesial em relação às gerações mais jovens”. O encontro de Jesus com os dois discípulos, cansados e decepcionados, lançou luz sobre o Sínodo.

Jesus anda com discípulos que não entenderam o significado dos acontecimentos e estão se afastando da comunidade. Para estar em sua companhia, Ele viaja com eles na estrada. Com carinho e energia, lhes anuncia a Palavra, levando-os a interpretar, à luz das Escrituras, os eventos que viveram e não entendem. Ao anoitecer, atendendo ao convite, Jesus entra na noite deles. E, naquela noite, o coração deles é aquecido, sua mente, iluminada; ao repartir do pão, seus olhos se abrem. Tanto que eles mesmos escolhem retomar a jornada, na direção oposta, para sem demora retornar à comunidade e compartilhar a experiência do encontro com o Ressuscitado.

Que imagem linda!

Nada poderia expressar mais e melhor a situação do mundo atual, cansado de si mesmo e sem perspectivas. O texto afirma que “na passagem de Emaús o evangelista fotografa a necessidade de os dois errantes buscarem sentido nos eventos que experimentaram. É o mesmo Cristo ressuscitado que quer trabalhar junto com todos os jovens, aceitando suas expectativas, mesmo que desapontadas, e suas esperanças, mesmo quando inadequadas. Jesus anda, escuta, compartilha”.

As escolhas que os jovens enfrentam podem ser expressas em três desejos: o desejo de ser ouvido, reconhecido e acompanhado.

Certa tendência em fornecer respostas e receitas prontas impede que muitas questões apareçam em sua novidade. A questão central de Jesus, em Emaús – O que vocês conversavam ao longo do caminho?” (Lc 24,17) – continua sendo a questão central ao redor da qual a Igreja precisa se mover. “Ouvir possibilita a troca de presentes em um contexto de empatia. Permite que os jovens doem sua contribuição para a comunidade, ajudando-os a captar novas sensibilidades e a fazer perguntas ainda não mencionadas. Ao mesmo tempo, estabelece as condições para um anúncio do Evangelho que verdadeiramente atinja o coração humano”.

O mundo dos jovens pode também ser repleto de dramas e de chagas. O ambiente digital com suas ferramentas de comunicação e seu lado escuro, por exemplo, “é também um território de solidão, manipulação, exploração e violência. A mídia digital pode expor o risco de dependência, isolamento e perda progressiva de contato com a realidade concreta, dificultando o desenvolvimento de autênticas relações interpessoais. Novas formas de violência se espalham pelas mídias sociais, como o cyberbullying, pornografia e exploração através do jogo”. Os jovens vivem nesse mundo plural, cheio de violência, perseguição, marginalização e vulnerabilidade, com histórias de separação e abusos.

O Sínodo dos Bispos foi profundamente realista, mas sem perder a esperança.

É assim quando diz que “os jovens são os portadores de uma abertura espontânea para a diversidade, o que os torna atentos às questões de paz, inclusão e diálogo entre culturas e religiões. Muitas experiências de muitas partes do mundo testemunham que os jovens sabem ser pioneiros do encontro e do diálogo intercultural e inter-religioso, na perspectiva da coexistência pacífica”.

O ponto mais alto foi ter ressaltado a figura de Jesus entre os jovens. Deus e a religião podem até virar palavras abstratas, mas a figura de Jesus, não. De muitas maneiras os jovens nos dizem: “Queremos ver Jesus” (Jo 12,21), mostrando assim a inquietação saudável que caracteriza o coração de todo ser humano: a inquietação da busca espiritual e de um encontro com Deus, a inquietação do amor. Não se trata de criar uma nova Igreja para os jovens, mas de redescobrir com eles a juventude da Igreja, abrindo-nos à graça de um novo Pentecostes”.

A vocação universal à santidade foi mais uma vez declarada como ponto de apoio e inflexão da pastoral com os jovens. “Todas as diferenças vocacionais estão reunidas no chamado único e universal à santidade, que no final só pode ser o cumprimento desse apelo à alegria do amor que ressoa no coração de todo jovem. Apenas a partir da única vocação à santidade pode articular as diferentes formas de vida, sabendo que Deus quer santos e espera que os jovens não se contentem com uma existência medíocre, aguada e sem graça” – como gosta de falar o Papa Francisco. 

É hora de despertar o mundo pela santidade.

“Só se nos tornarmos santos poderemos convidar os jovens a se tornarem santos. Os jovens clamam por uma Igreja autêntica, luminosa, transparente e alegre. E somente uma Igreja de gente santa pode atender a esses pedidos. Muitos jovens deixaram a Igreja porque não encontraram santidade, mas mediocridade, presunção, divisão e corrupção. É por isso que a Igreja, como um todo, deve fazer uma mudança de perspectiva decisiva, imediata e radical. Os jovens precisam de santos que formem outros santos, mostrando que a santidade é a face mais bela da Igreja. Só há uma linguagem que todos os homens e mulheres de todos os tempos, lugares e culturas podem entender, porque é imediata e luminosa: é a linguagem da santidade”.

Desde o início, o Sínodo teve clara visão de que os jovens são parte integrante da Igreja. A santidade deles nas últimas décadas produziu um florescimento em todas as partes do mundo. A coragem de tantos jovens que renunciaram a suas vidas para permanecerem fiéis ao Evangelho é a grande novidade a oferecer ao mundo. Ouvir os testemunhos de jovens que, no meio das perseguições, escolheram partilhar a paixão do Senhor Jesus, é profundamente regenerador.

“Através da santidade dos jovens, a Igreja pode renovar seu ardor espiritual e seu vigor apostólico. O bálsamo de santidade gerado pela vida de muitos jovens pode curar as feridas da Igreja e do mundo”. Eles não abandonaram o primeiro amor (Ap 2,4).

Com essas palavras iluminadoras, quero pedir a vocês, irmãos e irmãs, o carinho de um novo rumo para uma Igreja mais presente e vital, discípula e missionária. Uma Igreja do Verbo que se faz carne em todo encontro humano, em toda oportunidade de fazer a presença de Deus se tornar real.

Que o Verbo feito carne ilumine nossa história, no Natal que bate à porta. E que nenhum de nós jamais perca o primeiro amor.

Feliz Natal! Em cada rosto feliz de criança, tenha ela a idade que tiver, neste Natal, Deus se fará presente outra vez, de novo e sempre, porque Ele é a nossa segurança e a nossa Paz.

Feliz Natal!

+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niterói

 

Fonte: Arquidiocese de Niterói



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