Jesus sobe aos céus. O cristão torna-se responsável pelo mundo

Publicado em 07/05/2016 | Categoria: Notícias |


ascensao do senhor

Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra 

Ano C – Ascensão do Senhor 

“Assim está escrito: O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sereis testemunhas de tudo isso. Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto”. Então Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu. Eles o adoraram. Em seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria. E estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus. Lc 24,46-53

Durante o seu processo de conversão Inácio de Loyola alimentava grande sonho: visitar Jerusalém. Na verdade o que pretendia era bem mais. O santo desejava morar na cidade. Lutou demais pela viagem, até que, partindo de Veneza, conseguiu realizá-la. Na Cidade Santa o peregrino foi levado ao monte das Oliveiras, lugar no qual antiga tradição considera tenha havido a Ascensão de Jesus. Uma pedra com duas leves depressões era venerada como o lugar derradeiro, sobre o qual estiveram os pés do Senhor na Terra. Inácio encantou-se com o que via. Tinha diante de si uma prova cabal da partida de Jesus para o céu. Rezou bastante diante da relíquia até que foi obrigado a retornar ao hotel. Continuou contemplando a cena com os olhos da imaginação e foi então que lhe bateu forte dúvida. Afinal, tratava-se a depressão maior referente ao pé direito, ou esquerdo do Senhor? Resolveu retornar àquele sítio. Naquele momento tornara-se importantíssimo para ele ter esta clareza. O grande problema é que Jerusalém estava sob o domínio dos muçulmanos e estes não facilitavam o trânsito de cristãos. Mesmo correndo sérios riscos e tendo sido até abordado no caminho por soldados, lá se foi Inácio na busca da certeza. Qual pé de Jesus tinha ficado, mais fortemente, impregnado na pedra.

Também o nosso processo de caminhada cristã passa por caminhos semelhantes a este vivido pelo santo. No começo dele, ainda quando vivíamos os tempos da catequese, a imagem que criávamos dos fatos bíblicos referentes ao Cristo da fé eram bastante concretas.

Era assim que observávamos a ascensão e outros relatos bíblicos relativos à ressurreição. Com certeza que as gravuras e pinturas dos artistas, reforçaram demais esta compreensão concreta. O Senhor era por nós percebido mais com os sentidos do corpo, do que com a profundidade de se acreditar naquilo, que os cinco sentidos são incapazes de captar.

À medida que vamos vivendo a caminhada como seguidores de Jesus. Ou, melhor dizendo, enquanto vamos vivenciando este nosso processo contínuo de conversão, também como ocorreu com Inácio, estas visões vão se depurando. Elas vão, pouco a pouco, deixando de pertencer ao reino dos sentidos, para adentrar nos muito mais amplos, profundos e belos desígnios e dimensões da fé.

Vamos então concluindo o quão incapazes são os nossos sentidos, para captar a realeza e a glória do Ressuscitado. Em outras palavras, passamos a considerar que a visão da subida gloriosa aos céus do nosso Senhor, não se dá para a “visão do olhar”, mas sim para a “visão da fé”.

Daí que os lugares de peregrinação como a tal pedra de Inácio em Jerusalém, para aqueles que vão caminhando na fé, deixam de ter fim em si mesmo e passam a serem donas de um simbolismo muito mais rico. Tornam-se ícones de uma realidade profunda e misteriosa. Totalmente incapaz de ser captada pelos sentidos do corpo.

A ascensão não deve ser vista como um evento independente. Está profundamente ligada à ressurreição. Na verdade estas são duas realidades totalmente complementares. A experiência que fazemos da subida de Jesus aos céus é mera continuidade daquela experiência, fundante para todos nós, da sua ressurreição.

Na ressurreição o movimento é do alto para baixo. É o Pai quem resgata o Filho condenado das garras da morte e o conduz à glória. Na ascensão o movimento se dá, literalmente, em sentido oposto. Somos nós que, ao assumir a maioridade de fé. estamos a dizer para Jesus que “agora é conosco”.

Relatar a subida gloriosa de Jesus aos céus, parece ser uma maneira inteligente e criativa de Lucas, para nos mostrar a responsabilidade que precisamos assumir no mundo. Para que reflitamos sobre este sentido Ele nos apresenta então a subida do Filho para o Pai dessa maneira bonita e simbólica.

Mas mesmo contemplando tal cena, o fato é que sabemos que Ele não foi embora. Jesus continua conosco. Não é por acaso que em toda Eucaristia o presidente diz à assembleia: “O Senhor esteja convosco”. E a resposta lhe volta em uníssono: “Ele está no meio de nós”.

É interessante reparar que temos neste domingo duas versões da ascensão. Esta do Evangelho de Lucas, sobre a qual vamos refletindo, e a segunda escrita muito provavelmente pelo mesmo evangelista e que está posta na primeira leitura, tirada do início dos Atos dos Apóstolos.

Lá o autor é mais explícito, ao mesmo tempo em que vai deixando, ainda de maneira mais patente, a incapacidade dos sentidos de perceberem o que realmente se passa. Jesus é coberto, diz a narrativa, por uma nuvem. Dois anjos vêm então, alertando os discípulos (a todos nós) de que não é para se ficar mirando o céu, esperando que, de lá das alturas, venham as soluções para os problemas, que somos nós quem devemos resolver.

A experiência desses dois mil anos retrata a dura realidade de que, apesar de termos, metaforicamente, afirmado ao Senhor que estamos em condições de assumir a idade adulta na fé, a prática não tem sido nem um pouco coerente. Continuamos bem distantes da criação de um mundo de paz, justiça e misericórdia, o Reino de Deus, ou seja, nos mantemos esperando que o Senhor faça a nossa parte.

Pistas para reflexão durante a semana:

– Jesus está nos céus, ou permanece comigo?

– O que tenho feito no lugar de Jesus para tornar o mundo melhor?

– Consigo ver a ressurreição e a ascensão como as duas faces de uma mesma moeda?

 
Fernando Cyrino


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